São Paulo, domingo, 23 de março de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Sucesso e devoção de fãs argentinos fazem Xuxa se sentir a 'nova Evita'

MARIANA SCALZO
ENVIADA ESPECIAL A MAR DEL PLATA

Quem acompanha Xuxa Meneghel pela Argentina não tem dúvidas, o cineasta Alan Parker errou: Xuxa -e não Madonna- é a nova Evita.
Em seus primeiros minutos no país, no sábado dia 8 de março, a loira mais famosa do Brasil reuniu cerca de 500 pessoas, no aeroporto de Mar del Plata, balneário ao sul de Buenos Aires.
Xuxa foi participar do programa "La Movida del Verano". Um show que acontece aos domingos em um anfiteatro na praia. O evento é transmitido pela rede de televisão Telefe, das 21h à 0h.
Ali, a multidão gritava seu nome e segurava cartazes com frases de boas-vindas. O povo argentino recepcionava sua "reina" (rainha), que havia um ano não pisava no país.
"Acho que me sinto um pouco Evita", brinca Xuxa. "Sempre trabalhei esperando pelo melhor, mas nunca pensei que o melhor fosse isso, esse reconhecimento", completa.
Na Argentina, o "Xou da Xuxa" começou a ser exibido em 1991, pela rede de televisão Telefe, e saiu do ar há três anos. Mesmo sem ter sua imagem veiculada pela TV, Xuxa arrasta fãs de todas as idades, desde crianças até distintos senhores e senhoras de cabelos brancos.
Na noite de domingo, cerca de 90 mil pessoas se apertaram para ver a apresentação de Xuxa. Ela cantou músicas de seu novo CD em espanhol, "Xuxa Dance", e hits como "Ilariê".
"La Movida" tem uma audiência de 8 pontos, cerca de 560 mil telespectadores. Com Xuxa, o programa pulou para uma média de 18 pontos, alcançando picos de 24 pontos.
Devoção
Os argentinos não querem apenas admirar a apresentadora. Eles querem um contato maior com a amiga Xuxa. Conversar, contar novidades e, principalmente, pedir conselhos.
"Olha Xuxa, fiquei noiva, vou me casar", grita uma fã, mostrando a aliança. "Parabéns", responde Xuxa da primeira janela do lado direito do ônibus, lugar que ocupa em todas as suas saídas. Dali, dá autógrafos, distribui fotos e beijos e conversa com sua fiel multidão.
Nas cartas que são entregues a ela estão mais confidências e pedidos. "Xuxa, estou grávida", revelou uma garota. "Xuxa, meu filho te adora, você poderia falar com ele?", pediu uma mãe.
Às vezes, a confiança que as pessoas depositam no mito a assusta. "Uma vez, estava entrando em uma rádio para uma entrevista e uma menina me parou para dizer que estava grávida e perguntar se eu achava que ela deveria ter o filho ou abortar. Não sabia o que dizer, é estranho. Não posso sair dando conselhos sem saber quem é a pessoa e qual a sua situação", diz.
O carinho dos fãs argentinos beira a devoção. Quando Xuxa ficou doente, em 94, seus seguidores fizeram promessas para a melhora da "rubia" (loira, em espanhol, e a maneira pela qual mais gostam de chamá-la).
"Um garoto prometeu cortar o cabelo se eu ficasse boa. Quando voltei à Argentina, já recuperada, ele me entregou uns 50 centímetros de cabelo. Tenho guardado até hoje", conta Xuxa.
Ufanismo
A nova batalha dos fãs argentinos é convencer Xuxa a ter seu tão programado filho lá. Para isso, mandam cartas, gritam nas ruas e mandam presentes. Alguns também se oferecem para ser o pai da criança.
"A idéia deles é que eu sou argentina. Já ganhei tantas blusinhas azuis e brancas. Se não for argentino, pelo menos vai usar muita roupa dessa cor", brinca.
Apesar de completamente fanáticos, os fãs de Xuxa tem sua própria organização para o cortejo da "reina".
Ao lado do ônibus que leva Xuxa e sua equipe, carros e táxis vão se revezando para que todos possam vê-la e falar com ela.
Os passageiros não se comportam de maneira comum. Ninguém senta nos bancos. Todos montam nas janelas, ficam em pé no teto solar ou sentam em porta-malas abertos.

Texto Anterior: Fernanda Montenegro grava 'Zazá' em Paris
Próximo Texto: Projetos incluem o 'Sábado Xuxa'
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.