São Paulo, segunda-feira, 24 de março de 1997
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Cemig atiça investidor para o superleilão

MILTON GAMEZ
DA REPORTAGEM LOCAL

Enquanto prepara-se para vender um terço de suas ações com direito a voto (ON) para um sócio estratégico, num superleilão de R$ 1,1 bilhão, a Cemig decidiu instigar os investidores amanhã com um "leilãozinho" de 3,5% de suas ações PN (sem direito a voto).
A oferta, anunciada na semana passada, deverá ser feita ao mercado um mês antes do leilão que abrirá a Companhia Energética de Minas Gerais para um sócio minoritário privado. A pequena prévia deverá movimentar cerca de R$ 150 milhões.
Valorização
Com isso, o governo mineiro espera faturar em cima da alta das ações da Cemig nos últimos meses, por conta da abertura do capital votante ao parceiro estratégico.
Em 1996, Cemig PN valorizou-se 71,3% e, neste ano, subiu outros 28,8%, segundo a Economática. Cemig ON, por sua vez, disparou 116,3% no ano passado e cresceu mais 16,3% neste ano.
Enquanto isso, o Índice de Energia Elétrica da Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo) subiu 93,3% e 30,8%, respectivamente. O Ibovespa, que mede as ações mais negociadas na praça paulista, registrou alta de 63,8% em 96 e 32,1% de lá para cá.
Fôlego
O bom desempenho de Cemig nas Bolsas não esfriou o entusiasmo dos analistas de investimentos, que sempre mandam botar o pé no freio quando os preços sobem demais e alcançam o chamado "preço justo" (quando o papel já reflete, na cotação, o retorno patrimonial esperado).
Na sexta-feira passada, recomendavam a compra de Cemig PN especialistas como Marcelo Audi, do Merrill Lynch, Teresinha Moniz, do Fator, Gilbert Casillas, do Salomon Brothers e Sérvulo Lima, do Bozano, Simonsen.
Eles consideram positivo o leilão de ações preferenciais da estatal, pois o maior número de ações em circulação aumentará a liquidez do papel (oferta de compra e venda).
Mas o que mais atrai os analistas que recomendam a compra das "elétricas mineirinhas" é a entrada do novo sócio controlador, que dará um toque de iniciativa privada -leia-se maior eficiência e maiores lucros- na Cemig.
"Apesar de o papel já refletir bastante as expectativas otimistas do mercado, ainda é tempo de comprar e aproveitar o momento favorável à empresa", avalia Audi.
"A parceria com o sócio privado irá dar mais vitalidade à companhia e aumentará seu potencial empreendedor, principalmente na geração de energia", prevê.
Audi, analista-chefe do Merrill Lynch no Brasil, lembra que a Cemig está bem posicionada estrategicamente e geograficamente: tem geração própria de energia e poderá atender o aumento da demanda dos Estados vizinhos, onde estão importantes distribuidores de eletricidade do país -Eletropaulo e CPFL (São Paulo), Light (Rio de Janeiro) e Escelsa (Espírito Santo).
Fator competitivo
Essa proximidade dos centros consumidores poderá ser um importante fator competitivo para a Cemig após a reestruturação do setor elétrico, em que haverá forte competição entre as empresas geradoras de energia.
"Embora a Cemig deva continuar estatal, ao contrário das energéticas paulistas, a presença de um importante sócio privado irá conferir à empresa padrões privados de competitividade. Além disso, a companhia ficará apta a buscar mais recursos de investimento no mercado internacional", diz Teresinha Monis.
Mas nem tudo são flores nesse mar de elogios à Cemig. Há dúvidas, por exemplo, quanto ao aspecto tarifário do negócio. As estatais não têm aumento garantido de tarifas, como as privatizadas Light e Escelsa.
Sérvulo Lima, do Bozano, prevê dificuldades na costura de um acordo tarifário dos Estados com o governo federal, o guardião da inflação baixa do Plano Real.

E-mail: papeis@uol.com.br

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