São Paulo, terça-feira, 25 de março de 1997
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Zanetti nega envolvimento direto com PC

HUMBERTO SACCOMANDI
LUCAS FIGUEIREDO

HUMBERTO SACCOMANDI; LUCAS FIGUEIREDO
ENVIADOS ESPECIAIS A ROMA

Ítalo-suíço assume que fez depósitos indicados por mafioso, mas sem saber origem ou beneficiário do dinheiro

O ítalo-suíço Angelo Zanetti, que teria feito depósitos em contas de Paulo César Farias, nega qualquer envolvimento direto com o empresário alagoano e com o narcotráfico.
"É tudo mentira. Não conheço nenhum brasileiro", afirmou Zanetti por telefone à Folha, de sua casa de Lugano (Suíça).
Ele diz que os depósitos que fez seguiram ordem do mafioso italiano Antonio Scambia, narcotraficante confesso e preso na Itália.
"Era o Scambia que me passava o número das contas. Eu não conhecia nem o destinatário, nem a origem do dinheiro", afirmou.
Isso pode reforçar a tese do envolvimento de PC diretamente com a máfia e o narcotráfico.
Scambia, em seus depoimentos, obtidos pela Folha e publicados anteontem, diz que esteve pelo menos duas vezes no Brasil, para acertar detalhes do tráfico com um representante da família mafiosa Caruana, radicada na América do Sul e que fornecia a cocaína, comprada na Colômbia.
Segundo a Justiça italiana, Zanetti seria o operador financeiro desse esquema e teria depositado em contas de PC Farias dinheiro proveniente da maior rede de tráfico já descoberta entre a América do Sul e a Itália.
O advogado de Zanetti, Filippo Ferrari, confirma que seu cliente fez operações financeiras para os narcotraficantes, mas disse que ele desconhecia a origem do dinheiro e a atividade das pessoas com que operava. "Isso tudo nos pegou de surpresa, mas Zanetti não tem motivos para se preocupar", disse.
O nome de Zanetti é citado com frequência nos depoimentos de dois mafiosos italianos arrependidos, Scambia e Arturo Martucci.
Segundo eles, Zanetti teria atuado diretamente no tráfico de drogas, além de facilitar a "lavagem" e a transferência do dinheiro.
Scambia acusa Zanetti também de participar do tráfico de armas e outras atividades ilícitas. Segundo o mafioso, Zanetti foi contatado pois tinha meios de transferir grandes somas de dinheiro.
"É tudo mentira, invenção", afirmou Zanetti. Ele esclareceu que se encontra em liberdade, diferentemente do que tinha informado o procurador italiano Marcello Maddalena.
"Sou um homem livre. Não tenho nada a temer", afirmou. Zanetti enfrenta dois processos. Um na Itália, por tráfico de drogas, e outro na Suíça, por "lavagem de dinheiro".
O procurador Maddalena já tinha acenado na semana passada com a possibilidade de que PC e Zanetti não se conhecessem.

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