São Paulo, terça-feira, 25 de março de 1997
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Tecno conquista a classe média em SP

ERIKA PALOMINO
COLUNISTA DA FOLHA

"A massa ainda comerá do fino biscoito que fabrico."
Oswald de Andrade

O tecno sai do underground e ganha terreno dentro dos clubes noturnos com perfil de frequentadores de classe média, mais mainstream.
A música eletrônica de batidas aceleradas e poucos vocais, ainda chamada por muitos de bate-estaca, já faz parte da vida de muitos jovens, fora do território clubber.
Superclubes como o Florestta e o B.A.S.E têm como carro-chefe de sua programação festas que chegam a reunir 1.900 pessoas, como a terceira edição da Lovegalaktica, na última quinta-feira.
"Foi impressionante, com uma vibração incrível", comemora Frajola, 25, um dos donos da casa no bairro nobre de Vila Olímpia.
"A vantagem da popularização do tecno é que, para quem já faz parte do movimento, aumentou o espaço, porque agora está todo mundo nessa. Em relação à playboizada, eles nem sabem direito o que é, mas há uma receptividade. No fundo o público gosta de coisas boas, tem gosto refinado."
Angelo Leuzzi, 41, um dos proprietários da B.A.S.E (região central), diz que até o ano passado esse tipo de proposta não existia. "Talvez até tenhamos sido mal interpretados na abertura do clube e tivemos que recuar um pouco." Para ele, "tecno é o rock do futuro. O que era antes a guitarra, hoje é o computador."
Leuzzi diz que as pessoas ainda estão assimilando: "No começo, o tecno é difícil para todo mundo, para mim também foi. Existe uma fita do Hell's Club (legítimo templo do tecno underground de São Paulo) que eu tenho há alguns anos e não conseguia ouvir. Agora ela me parece superatual. Ainda, um de meus sócios no B.A.S.E diz que antes ele nem sabia o que era tecno; agora tem 12 fitas só disso no carro."
Prova da mudança desse panorama é um dos DJs do clube, Buga, 25 anos. Saído de um universo mauricinho, Buga recebe influências modernas e faz um som tecno-house, representando esse novo momento, mais acessível e bem de acordo com o novo público.
Buga tocava como hobbie, em casa; passou a ser chamado para festas de seus amigos e agora toca às terças e quintas na B.A.S.E.
"O pessoal era muito fechado. Agora eu até estranho, pedem coisas mais pesadas do que as que eu toco. Agora, como o pessoalzinho está gostando, os DJs das casas que tocam um som mais misturado vão ter que começar a mesclar."
Renato Lopes, 34, DJ há 11 anos, um dos mais conceituados na cena, considera que esse fenômeno de popularização do tecno começou com um segmento de classe média alta descolado, a partir de idas ao Hell's e a Ibiza, de um ano e meio para cá. "A receptividade existe; o problema é que as pessoas entendem como tecno apenas coisas como Hysteric Ego ou Robert Miles (de caráter mais popular, de batida veloz, mais apelativas). É parte do processo de assimilação."
As pessoas respondem ao som com gritos e assobios, conta Lopes, que compara este momento do tecno com a popularização do gênero na periferia, saído do Sound Factory, na Penha.
Um exemplo do novo perfil do tecno é Juliano Toledo, 24, estagiário na agência de publicidade DPZ: "Gosto de ir para dançar e ficar até altas horas, mais como programa. Gosto do movimento como um todo".

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