São Paulo, terça-feira, 25 de março de 1997
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"Escrevo por dinheiro", diz americano

MARCELO REZENDE
DA REPORTAGEM LOCAL

Puzo surgiu para a literatura no final dos anos 50, com o romance "The Dark Arena". Um trabalho "mais artístico" do que seus escritos posteriores, como ele mesmo afirma.
A aparição para o grande público se deu graças ao cinema, quando o diretor norte-americano de ascendência italiana Francis Ford Coppola levou "O Poderoso Chefão" às telas, em 1972 (o filme tem reestréia prometida para o segundo semestre).
O trabalho terminou dando início a uma espécie de ópera trágica sobre a família, a honra e o capitalismo na América, que prosseguiria com a segunda e terceira partes da trajetória dos Corleone -símbolos da história dos mafiosos nos EUA.
Continuando uma tradição, "O Último Chefão" estréia no próximo mês em uma adaptação para a TV, numa produção da CBS.
Abaixo, Puzo comenta seu trabalho com Coppola, as relações pessoais com a máfia e a necessidade de escrever por dinheiro.
(MR)
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Folha - Escrever para o cinema significa maior lucro ou apenas mais pressão para um romancista?
Puzo - São coisas diferentes. Escrever para o cinema é mais fácil. Quanto à pressão... Eu sou homem que já tinha um emprego seguro como romancista e não sofri nenhuma pressão.
Folha - Em um programa de entrevistas o sr. afirmou que escrevia apenas por dinheiro. Era uma espécie de piada ou uma confissão?
Puzo - Eu tento escrever o melhor livro que conseguir. Mas estou cansado das pessoas que dizem fazer isso pela arte. Faço para sobreviver. É para mim um meio de vida.
Eu era muito pobre e me custou muito tempo e esforço para conseguir sucesso. Escrevo por dinheiro, mas quero fazer um bom trabalho. Meu primeiro livro era muito mais artístico e eu não ganhei dinheiro nenhum. Isso porque não fiz uma obra fácil.
Folha - O cineasta Francis Ford Coppola, que filmou alguns de seus roteiros, tem uma posição oposta. Preferiu atuar à margem da indústria. Houve algum atrito?
Puzo - Sim, Coppola tem essa postura. Mas a única coisa que posso dizer é que foi maravilhoso trabalhar com ele. Francis nunca disse uma palavra de reprovação ou qualquer coisa terrível. Tudo o que não gostava, simplesmente não usava.
Ele nunca disse "eu não gosto disso". Para nós dois, a noção de família é muito importante.
Folha - Seus leitores imaginam que o sr. conhece a Máfia muito de perto. Houve algum tipo de envolvimento pessoal?
Puzo - Isso tudo é muito engraçado, porque trabalho apenas com pesquisas. Antes de publicar "O Poderoso Chefão", escrevia resenhas de livros. Quando você é um resenhista, não sobra muito tempo para ser gângster.

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