São Paulo, quarta-feira, 26 de março de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Sorte é um dos elementos do sucesso

BILL GATES

Recebo muitas perguntas relativas ao meu sucesso, por isso vou responder a várias delas e depois refletir sobre a importância dos erros, a outra face da moeda do sucesso.
Pergunta - Até que ponto o destino ou a sorte contribuíram para seu sucesso? Ashutosh K. (SRF.BOM@ SRF. sprintrpg.sprint.com)
Resposta - A sorte desempenhou um papel muito grande. Uma parte dela surgiu depois de meu ingresso no mundo dos negócios, mas, na verdade, minha sorte começou antes disso.
Tive a sorte de ter família e professores que me incentivaram. As crianças muitas vezes crescem e florescem quando recebem atenção desse tipo.
Outra sorte incrível que tive foi ficar amigo de Paul Allen quando ainda éramos meninos. Sua visão tornou-se crucial para o sucesso da empresa que fundamos juntos. Sem Paul, não teria existido Microsoft nenhuma.
O momento que escolhemos para abrir a primeira empresa de software para computadores pessoais foi essencial para nosso sucesso. Esse momento não se deveu inteiramente à sorte, mas sem muita sorte não poderia ter acontecido.
A importância de nascer no momento certo é uma das coisas das quais falo na edição revista de meu livro, "A Estrada do Futuro". A saber: meu amigo Warren Buffett, muitas vezes chamado de o maior investidor do mundo, fala em como é grato por viver em um momento em que seus talentos específicos são valiosos.
Warren diz que, se tivesse nascido há alguns milhares de anos, provavelmente teria servido de almoço para algum animal. Mas nasceu em uma época em que existe mercado de ações e que o premia pela fantástica compreensão que ele tem desse mercado.
Segundo Warren, os grandes jogadores de futebol americano também deveriam sentir-se gratos. Em nossa época, diz ele, existe um esporte em que um sujeito que é capaz de chutar uma bola de formato estranho para dentro de um gol, em uma boa porcentagem de suas tentativas, é capaz de faturar milhões de dólares por ano.
Como Warren e os astros do futebol americano, eu nasci no lugar certo e na hora certa.
Quando você é sortudo e bem-sucedido, é importante não tornar-se complacente. A sorte às vezes vira, e os consumidores costumam exigir muito das pessoas e empresas que eles transformam em sucesso. Grandes erros raramente são tolerados. Espero permanecer bem-sucedido, mas não existem garantias.

Pergunta - Em que medida o fato de ser cidadão norte-americano ajudou-o a realizar seus sonhos? Ganesh Kumar, Boston (Ganesh-Kumar@ hpc.org)
Resposta - O espírito empresarial empreendedor dos jovens é mais forte nos EUA do que em praticamente qualquer outro lugar do mundo.
Eu fundei a Microsoft aos 19 anos de idade. Não poderia ter feito o mesmo na maioria dos países. Existe nos EUA uma disposição de deixar um jovem abrir uma empresa e contratar pessoas. O público, a imprensa e o mercado muitas vezes prestam atenção nos produtos da empresa, apesar de seu líder ser tão jovem.
Se você se mostra surpreendentemente bom em alguma coisa quando ainda muito jovem, muitos americanos lhe enquadram na categoria "pessoas que superam as expectativas". Você superou a média, e eles se indagam o que mais você será capaz de fazer.
Essa receptividade ao "garoto inteligente" é uma das qualidades atraentes da cultura norte-americana. Ela contribuiu para meu sucesso logo cedo na vida e também para os triunfos de Michael Dell, Marc Andreeseen e outros na indústria dos PCs.
À medida que o mundo se transforma num ambiente mais empreendedor e que seus governos reconhecem a importância de deixar que o mercado tome as decisões, muitos jovens empresários inovadores devem surgir por toda parte, da Europa do leste à China.

Pergunta - Qual foi seu momento mais feliz na história da Microsoft? Lester Beasley, Jr. (deadeye@startext.net)
Resposta - Se eu fosse obrigado a identificar um momento mais feliz, diria que foi o lançamento do PC IBM, em 1981. Ou esse ou, em 1976, quando nossa versão do "Basic" começou a ser usada no Altair, o primeiro computador pessoal da história.
Mas não costumo comemorar momentos históricos como esses, porque encaro meu trabalho como algo inacabado. Ainda não existe um computador sobre cada mesa de cada casa, e os computadores ainda não são tão fáceis de usar. Quando atingirmos essas metas, aí sim, eu realmente terei algo para comemorar.
Como todo o mundo, espero que os momentos mais felizes da minha vida ainda estejam por vir.

Pergunta - Como você conseguiu manter-se ligado em seus objetivos mesmo depois de obter uma posição financeira confortável? Brad Girard (goal@direct.ca)
Resposta - O dinheiro pode distrair algumas pessoas, mas não todas.
Para mim, o fato de ter dinheiro até me ajuda a ficar ligado e concentrado. Permite que eu contrate um jardineiro e passe mais tempo ao lado de minha família. Permite-me pagar alguém para lavar o carro, para que eu possa me concentrar nos desafios e naquilo que faço melhor.
Manter-se concentrado em seus objetivos é uma das chaves do sucesso. Cada um precisa compreender seu círculo de competência -as coisas que faz bem- e gastar seu tempo e dinheiro dentro dele. Possuir dinheiro não é motivo para sair fora desse círculo.
Muitas pessoas não se concentram no que fazem bem, e, para elas, o dinheiro pode ser um fator de distração sério, embora atraente.

Pergunta - Qual foi o maior erro de sua vida? Josi Miguel Peqzquri, México (ggarcia @compact.com.mx)
Resposta - Do ponto de vista de minha vida profissional, a resposta soa corriqueira. Eu demorei demais a fazer minha empresa ingressar no ramo dos produtos de correio eletrônico. Esse meu atraso nos deixou em desvantagem.
Também lamento não termos conseguido contratar certas pessoas. Talvez eu pudesse ter me esforçado um pouco mais para contratá-las. Do ponto de vista pessoal, já cometi minha justa parcela de erros, mas não há muitos que eu voltaria atrás para corrigir.
A maioria dos erros que cometemos na vida nos conscientiza de nossas limitações. Normalmente, acabam representando algumas das coisas mais importantes pelas quais passamos na vida.

Tradução de Clara Allain.

Cartas para Bill Gates, datilografadas em inglês, devem ser enviadas à Folha, caderno Informática -al. Barão de Limeira, 425, 4º andar, CEP 01202-900, São Paulo, SP- ou pelo fax (011) 223-1644.
E-mail askbill@microsoft.com

Texto Anterior: Ovo de Páscoa se esconde no computador
Próximo Texto: Internet via satélite; E-mail permanente
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.