São Paulo, quinta-feira, 27 de março de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Negociação com banqueiro dura um ano

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA; DA REPORTAGEM LOCAL

Reportagem Local
A negociação do Banco Central com o Bamerindus para dar uma solução à crise financeira do banco durou quase um ano.
Desde abril do ano passado, os técnicos discutem uma alternativa para manter o banco funcionando. Foi quando o senador José Eduardo de Andrade Vieira (PTB-PR) deixou o posto de ministro da Agricultura de FHC.
Por seis meses, o senador José Eduardo de Andrade Vieira, licenciado da presidência do banco, tentou permanecer na diretoria. A princípio, ele resistiu em passar o controle acionário da instituição.
A demora das negociações forçou o senador a mudar de idéia, já que os grandes aplicadores estavam fechando suas contas no Bamerindus por causa da incerteza quanto a seu futuro.
Vieira conversou algumas vezes com o presidente Fernando Henrique Cardoso para insinuar que esperava uma solução rápida.
Durante todo esse tempo, ele tentou manter o Bamerindus longe dos jornais para evitar rumores sobre a situação financeira do banco paranaense.
Em novembro de 96, a bancada do Paraná tentou marcar uma audiência com FHC para pedir tratamento diferenciado ao banco.
A queixa contra os técnicos do BC era também a mesma: demora nas negociações. O principal articulador da bancada foi o adversário de Andrade Vieira no Paraná, o senador Roberto Requião (PMDB).
A bancada não conseguiu ser recebida nem mesmo pelo ministro Luiz Carlos Santos (Assuntos Políticos).
A estratégia era manter os empregos e a sede do Bamerindus no Estado.
Várias propostas
Em setembro de 96, o Bamerindus apresentou ao BC uma proposta de reestruturação.
A intenção do banco era nomear um grupo de executivos, indicados pelo próprio banco e pelo BC, para administrar a instituição por um prazo determinado e preparar a venda do seu controle. Mas a proposta não vingou.
Na busca da solução, o candidato preferido do BC para assumir o banco após a reforma de sua estrutura sempre foi o HSBC, já detentor de 6,14% do capital.
Quando o governo anunciou o acordo com o Banespa, no final de 96, Andrade Vieira se animou. A proposta elaborada pelo banco era semelhante ao modelo de financiamento do banco paulista.
O BC, no entanto, não gostou da proposta porque ela previa a concessão de empréstimos do Proer (programa de socorro aos bancos) sem mudança imediata do controle acionário.
Os técnicos do Bamerindus fizeram então outra sugestão: o banco venderia todos os títulos públicos e a carteira imobiliária para poder pagar os empréstimos diários feitos pelo BC e pela CEF (Caixa Econômica Federal).
No início deste mês, Vieira se encontrou com o presidente do BC, Gustavo Loyola, para, mais uma vez, pedir pressa. Loyola ficou de conversar melhor quando voltasse de uma viagem à Europa. Ele chegou neste último final de semana.
O senador dizia a seus amigos que não acreditava em intervenção no seu banco porque não havia risco para os clientes nem fraudes cometidas pela diretoria.
Crise desde 1995
Apesar de as negociações do BC com o Bamerindus terem começado em abril de 96, a crise do banco teve início com a intervenção do Banco Central no Nacional e no Econômico, em 95.
Elas alimentaram os rumores de que também o Bamerindus estaria enfrentando dificuldades.
Analistas do mercado chamavam atenção para os problemas enfrentados pelo grupo com uma de suas empresas -a fábrica de papel Inpacel- onde o Bamerindus havia investido muito dinheiro e que estava dando prejuízo.
Com os boatos correndo no mercado, o Bamerindus passou a enfrentar uma onda de saques.
Grandes clientes transferiram suas aplicações para outras instituições, o que prejudicou ainda mais o desempenho do banco.
Em uma tentativa de reverter a situação, o grupo Bamerindus decidiu operar uma reforma patrimonial em julho de 96.
O controle da Inpacel foi transferido para a Bamerindus Companhia de Seguros. Com essa reforma, R$ 25 milhões do prejuízo gerado pela fábrica foram repassados para a seguradora.
Ainda na semana passada, a seguradora confirmava que estava vendendo a fábrica para a empresa canadense Stern.

Texto Anterior: Peugeot define fábrica em abril
Próximo Texto: Campanha de FHC recebeu R$ 276 mil
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.