São Paulo, sábado, 29 de março de 1997
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10% dos adultos rumam ao alcoolismo

RONI LIMA
DA SUCURSAL DO RIO

O presidente nacional do AA (Alcoólicos Anônimos), psiquiatra Luiz Renato Carazzai, 37, disse que cerca de 10% da população brasileira a partir de 18 anos já entrou em processo de desenvolvimento de dependência ao álcool.
"O alcoolismo é uma doença progressiva, crônica e fatal, mas que pode ser interrompida, se a pessoa parar de beber", afirmou.
Segundo Carazzai -que ontem participou da abertura da convenção no Riocentro, em Jacarepaguá, no Rio, em comemoração ao cinquentenário do AA no Brasil-, dos internamentos psiquiátricos no país, de 42% a 50% são em decorrência do alcoolismo. O evento termina hoje.
Médico do Serviço de Psiquiatria da Universidade Federal do Paraná, Carazzai foi eleito para representar publicamente o AA.
Carazzai afirmou que o consumo abusivo de álcool traz problemas graves não só para a saúde do alcoólico, mas também em seu relacionamento familiar e de trabalho.
Segundo ele, as pessoas envolvidas com o álcool faltam em média quatro vezes mais que os trabalhadores que não costumam beber. Às segundas, os alcoólicos chegam a faltar dez vezes mais.
"Eles têm também oito vezes mais atrasos e quatro vezes mais acidentes de trabalho. Sua produtividade cai em 20%", disse. Suas estatísticas se baseiam em estudos do Ministério da Saúde e de universidades, entre outras entidades.
Em Curitiba, 40% das separações de casais teriam o álcool como agente fundamental. "Na delegacia da Mulher de Curitiba, 87% das queixas são de espancamentos por maridos bêbados", diz Carazzai.
Mulheres
Carazzai afirmou que as mulheres também começam a aparecer de forma relevante nas estatísticas. Há dez anos, das pessoas com problemas alcoólicos que procuravam ajuda no país, 13% eram mulheres. Hoje, segundo Carazzai, são 30%.
Segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde), problemas de saúde ligados ao alcoolismo são a terceira causa das mortes no mundo, atrás de doenças no coração e do câncer.
Carazzai disse que o alcoolismo é uma doença "multifatorial", envolvendo aspectos biológicos, psicológicos e sociais.
Já existem estudos, segundo ele, mostrando que haveria uma tendência genética para que pessoas adquiram a dependência.
"Filhos de alcoolistas têm uma tendência quatro vezes maior que os outros de adquirir a dependência", afirmou. Mas, segundo ele, mesmo tendo "um terreno fértil" para se desenvolver, a doença só se instala com o uso do álcool.

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