São Paulo, sábado, 29 de março de 1997
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TV a cabo chega à favela da Rocinha

FERNANDO PAULINO NETO
DA SUCURSAL DO RIO

A TV por assinatura, considerada um serviço para a classe média-alta, está entrando na Rocinha. A partir do final de abril, os moradores da que é considerada a maior favela do Rio, na zona sul, terão acesso a 33 canais por intermédio da TV Roc.
Com investimento inicial de US$ 3 milhões do grupo argentino Quinterno, Sanches Elia y Asociados, a TV Roc está vendendo os mesmos canais que são distribuídos pela Net, das Organizações Globo, além de um canal comunitário, que deve entrar no ar no segundo semestre.
Os argentinos, que montaram no Brasil a SMR Comunicações, eram sócios da Rio Cabo (também das Organizações Globo). Desfizeram a sociedade e conseguiram a concessão da Rocinha, que pertencia à Net.
Uma das vantagens em relação à Net é o preço. A assinatura está custando R$ 64 (divididos em duas parcelas) e a mensalidade, R$ 32. Fora da Rocinha, a Net cobra R$ 180 de assinatura e R$ 53 de mensalidade.
Segundo a gerente comercial da TV Roc, Graciela Sanches, o objetivo é em cinco anos chegar a algo entre 8.000 e 10 mil assinaturas. No primeiro momento, está sendo cabeada a área baixa da favela, onde fica a maior parte do comércio, com 2.000 casas.
Graciela Sanches disse que o pessoal contratado pela SMR para instalação dos cabos e para a venda de assinaturas foi recrutado entre os moradores da comunidade.
Vendedores
Hoje há seis vendedores percorrendo a favela de porta em porta e um quiosque armado na via Apia, principal entrada do local. "É mais fácil porque eles conhecem todo mundo", diz a gerente.
Para fazer o levantamento topográfico da favela e começar a montar os cabos, a TV Roc precisou de autorização da associação de moradores. "Eles não colocam obstáculos e facilitam em tudo", diz Graciela.
Ela nega qualquer aproximação direta com os traficantes. No entanto, reconhece que eles sabem da presença de seus funcionários. "Não falamos diretamente com eles, mas sabemos que eles sabem da gente. Eles conhecem a minha cara", diz Graciela.
O canal de TV comunitário, que também se chama TV Roc, vai mostrar programas educativos, fará a cobertura do Raiz da Gávea, time de futebol da Rocinha, da escola de samba Acadêmicos da Rocinha e de eventos da comunidade.
Publicidade
A publicidade da TV Roc, além das faixas espalhadas pela favela, está limitando-se à radio comunitária, à rádio FM "Catama", gerada na favela, e ao jornal "Zona Sul", que circula na Rocinha e em favelas próximas.
Segundo a associação de moradores, a Rocinha tem 200 mil habitantes. O Iplan-Rio (empresa de planejamento municipal) informa que, segundo o censo do IBGE, eram 42.892 habitantes em 1991.
"Para chegar a 200 mil, seria necessário que toda a área da Rocinha fosse ocupada por prédios de dez andares", diz a diretora de informação o Iplan-Rio, Márcia Coutinho.
A favela é, na verdade, um bairro popular. Ainda pelos dados do censo, são 11.900 habitações com média de 3,7 cômodos por domicílio. Do total das casas, 57% têm esgoto adequado, 94,1% têm água adequada e 91% têm recolhimento regular de lixo.
A grande maioria das famílias (69%) tem o chefe ganhando até dois salários mínimos. Márcia Coutinho informa que entre a população pobre, em geral, mais de um membro da família trabalha.

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