São Paulo, domingo, 30 de março de 1997
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GM inicia concorrência mundial

Peças irão para o Corsa

ARTHUR PEREIRA FILHO
DA REPORTAGEM LOCAL

A General Motors Corporation abriu concorrência mundial para definir os fornecedores da nova geração do modelo Corsa, que será lançado no ano 2000.
As empresas vencedoras terão a garantia de produzir e fornecer conjuntos de componentes em todos os países em que a GM decidir montar o novo carro. O Brasil é um deles.
Ou seja: quem fornecer um determinado módulo para o Corsa produzido na Espanha -sistema de freio, por exemplo- vai ser responsável pelo componente do Corsa feito na Alemanha, no Brasil, na Argentina, etc.
Até agora as concorrências têm sido feitas regionalmente: o fornecedor de um componente para o modelo produzido na Europa não tem garantido a encomenda para o carro brasileiro.
A montadora não prevê aumento do volume de peças importadas nos carros. O que a GM quer é atrair seus fornecedores mundiais para perto de suas fábricas em todos os países onde atua.
Para ganhar o contrato com a GM, os fornecedores vão ter de construir fábricas, comprar ou se associar a empresas locais já instaladas. Terão de garantir a mesma qualidade, prazos de entrega e o mesmo preço em todo o mundo.
Para o fornecedor nacional de autopeças isso significa uma drástica mudança nas regras do jogo. Para ganhar a concorrência do modelo da GM, não basta apenas ter preço e qualidade para fornecer peças para o carro brasileiro.
Vai ter que disputar uma concorrência internacional ou então se associar ao fornecedor mundial da marca para continuar vendendo seus produtos para a montadora. Resultado: muitas empresas nacionais de autopeças deixarão de ser fornecedoras diretas da GM.
Vão se associar a grupos internacionais ou vão fornecer apenas para os fornecedores principais, que ficarão responsáveis pelas montagens de subconjuntos.
"A globalização é irreversível", diz Miguel Guazelli de Araújo, presidente da Freios Varga, brasileira que é uma das principais fornecedoras da montadora no mundo.
Tendência
Segundo Araújo, não é apenas a GM que decidiu escolher fornecedores mundiais. "Todos os carros que serão lançados a partir de 2000 deverão usar o mesmo conceito. O novo Fiesta, da Ford, também terá fornecedores mundiais."
José Roberto Ferro, professor da FGV, especialista em indústria automobilística, diz que a iniciativa da GM faz sentido. "Todos os grandes fornecedores de autopeças do mundo já estão investindo ou programaram investimentos no Brasil. As dez maiores empresas do setor já têm um pé aqui e estão em expansão", diz Ferro. Segundo ele, isso ocorre porque elas têm garantia de que vão pegar contratos de fornecimento das montadoras que estão chegando ao país.
A concentração do fornecimento nas mãos de um grupo reduzido de fornecedores em escala mundial também representa riscos para as montadoras, afirma Ferro.
"Uma fábrica pode ficar muito dependente de um determinado fornecedor", diz. Ele lembra o que ocorreu com a Toyota japonesa, que teve de interromper a produção porque a fábrica de um fornecedor exclusivo pegou fogo.
Darcio Crespi, consultor da Arthur D. Little, diz que as montadoras já estão preocupadas com um possível aumento de poder dos fornecedores no futuro.
Estudo realizado pela Universidade de Ohio (EUA) prevê que no início do próximo século vão restar 28 montadoras e 27 grandes fornecedores de autopeças.
No Brasil, a Fiat saiu na frente. Cerca de 85% dos fornecedores do Palio, carro mundial da marca lançado no Brasil em 96, têm presença nas versões que serão produzidas em países como Polônia e Índia.

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