São Paulo, domingo, 30 de março de 1997
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Começa a nascer um novo mito no Corinthians

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Morre um mito e começa a nascer outro no Parque. Foi-se Baltazar, o Cabecinha de Ouro. Não dá pra passar às novas gerações o que significou esse centroavante em seu tempo. Baltazar era um mito vivo, agindo em pleno esplendor de sua juventude, nos anos 50.
E, se quisermos fazer um paralelo com o presente, Baltazar seria o Túlio daquela época. Mas um Túlio abraçado, agasalhado, mimado pela Fiel, que já era tão fiel. Um Túlio, no sentido de que nunca foi craque, capaz de burilar as jogadas, de tratar a bola com esmero e carinho. Era de uma grossura comovente: a bola batia-lhe, invariavelmente, na canela tomando rumos imprevisíveis, mas sempre acabava no fundo das redes inimigas.
Ah, pelo alto, tire Túlio ou qualquer outro. Baltazar foi inigualável. Já vi cabeceadores de escol, tipo Leivinha, Escurinho (aquele do Inter bicampeão brasileiro), Ademir Queixada, Leônidas da Silva e quantos mais. Nenhum deles se equiparava a Baltazar. Bola alçada na área por Cláudio, o Gerente, era gol certo, mesmo que por lá estivessem o gigante Pinheiro ou o impecável Mauro, dispostos a cortá-la.
É bem verdade que a rusticidade de Baltazar é discutível. Afinal, ele começou no Jabaquara como centromédio, uma posição nobre em qualquer time daqueles tempos, que exigia talento e discernimento do seu ocupante.
Mas, enquanto centroavante do Corinthians ou da seleção, Baltazar significava gol. Direto e indiscutível.
No auge de sua fama, Baltazar estourou um Cadillac amarelo, símbolo de status e mau gosto da época. Uma campanha popular devolveu-lhe o carro, com juros.
Era a comprovação da popularização de seu nome, que frequentava os cartórios de registro com incrível assiduidade: tudo quanto era crioulo que nascesse levava o batismo de Baltazar.
Seu carisma era tal que mereceu duas homenagens da música popular brasileira: o chorinho "Baltazar", com o apoio do mitológico trombone de Raul de Barros, e a marchinha de Carnaval "Gol de Baltazar".
Morreu Baltazar.
E, no mesmo instante, começa a nascer novo mito alvinegro: o goleiro Ronaldo. Quinze anos de Parque; dez, como profissional, titular do gol corintiano. Não é feito pra qualquer um. Basta dizer que Ronaldo atinge mais de 500 jogos cumpridos com a gloriosa camisa alvinegra -e, se tudo correr normalmente, deverá ainda este ano atingir o recorde de Luisinho, o Pequeno Polegar, parceiro de Baltazar no ataque dos cem gols.
Ronaldo perfila-se ao lado de Tuffy, Cabeção e Gilmar como os maiores arqueiros da história do Parque.
Tuffy era um galã, que participou, ao lado do palhaço Genésio Arruda, do primeiro filme brasileiro sobre futebol. Cabeção era prata da casa, como Ronaldo, e Gilmar veio de contrapeso do Jabaquara na contratação do médio Ciciá.
Todos são responsáveis por um instante mágico da história do Corinthians. Nenhum, contudo, foi mais fiel do que Ronaldo Giovanelli, filho ilustre da zona leste, que ameaça encerrar sua carreira onde nasceu.

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