São Paulo, domingo, 30 de março de 1997
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Público-família dos EUA anima Parreira

JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
DE NOVA YORK

No futebol norte-americano, o técnico Carlos Alberto Parreira sente-se em casa. Não tanto pelo comportamento das equipes dentro de campo, mas pelo do público fora dele.
"Todos são muito educados, dá prazer jogar para uma platéia assim", disse o treinador brasileiro, que tem nas mãos a responsabilidade de comandar o MetroStars, representante dos Estados de Nova York e Nova Jersey, no Campeonato Norte-Americano.
"A família comparece aos jogos. Você não vê violência, baixarias, palavrões contra os treinadores. É um público que quer a diversão."
Parreira deu entrevista à Folha logo após um dos treinos de sua equipe no Keam College, em Hillside, Nova Jersey.
*
Folha - Como está sendo sua vida nos EUA?
Carlos Alberto Parreira - Ainda é cedo para falar, estou aqui há três semanas e só tive tempo de ir ao cinema, por exemplo, uma vez.
Folha - Que filme?
Parreira - "Jerry Maguire". Achei genial. Agora quero ver "O Paciente Inglês". Depois de todos os Oscars, não dá para perder.
Folha - E teatro?
Parreira - Ainda nada, porque o começo é sempre um pouco atribulado. Até para quem já viveu fora como eu, que estive várias vezes no Oriente Médio, é necessário um tempo para a adaptação.
Estou montando apartamento, você encomenda um sofá ou uma cama e são de seis a oito semanas para chegar.
Mas não faltarão oportunidades de curtir a cidade. Nova York é fabulosa, não pára um minuto.
Folha - Sua família já se mudou para os EUA?
Parreira - Só minha mulher. Minhas filhas só virão em junho. Uma faz pós em marketing, a outra cursa arquitetura.
Folha - O futebol nos EUA é muito diferente do brasileiro?
Parreira - Se eu dissesse que não, estaria mentindo. Mas tem muita coisa de que gosto, como o comportamento do público.
São pessoas educadas e não violentas. Eu me identifico com elas. É um público que quer a diversão.
Folha - A maioria é de latinos, não é?
Parreira - Sem dúvida, mas são torcedores pacíficos, que vão aos jogos com as mulheres, as crianças... Não é como no Brasil.
Folha - O assédio da imprensa é muito menor?
Parreira - Não é muito menor, não. Em Nova York, há muitas rádios argentinas, colombianas, equatorianas.
Mas há uma variação de jogo para jogo, de acordo com o local dos EUA em que ele é disputado.
Dependendo da cidade, você tem de falar com 20 jornalistas, mas em outra, pode ser que só haja dois em campo para te entrevistar.
Folha - A comunidade turca em Nova York tem verdadeiro fascínio por você. Existe a possibilidade de voltar para a Turquia?
Parreira - Não é para me gabar, mas realmente eu deixei uma marca no futebol turco e sei que eles me adoram. Recebi até proposta para voltar para a Turquia, mas recusei, porque pretendo ficar dois anos nos EUA.
Folha - Seu time perdeu na estréia nos shut-outs (quando o jogo termina empatado, o jogador sai com a bola dominada da intermediária e tem cinco segundos para marcar o gol). O que você achou deles?
Parreira - Os shut-outs são uma idéia genial. São lances emocionantes, em que o goleiro, mais do que nos pênaltis, tem chance de defender. Sou totalmente favorável a que eles substituam as penalidades. Vi e aprovei o que vi.
E o mais interessante é que o time que perde nos shut-outs não ganha ponto. O que ganha nos shut-outs leva um ponto, mas quem vence no tempo regulamentar fica com três. Resultado: o estímulo pela vitória é maior.
Folha - O MetroStars é um bom time?
Parreira - Mais uma vez, é cedo para falar. Não é desculpa de treinador, mas ainda estamos muito no começo e quase não tivemos tempo para treinar.
E só agora que o tempo está melhorando. Até 15 dias atrás, você percebia claramente os estragos do inverno nos nossos campos de treinamento.
Como o campeonato só será decidido nos playoffs, em outubro, não estou preocupado com os resultados das rodadas iniciais.
Folha - Voltando um pouco para a sua passagem pelo futebol brasileiro no ano passado. Ficou alguma mágoa do São Paulo, clube que você acabou dirigindo por tão pouco tempo?
Parreira - Vou te dizer uma coisa. O São Paulo é o clube mais organizado em que eu já trabalhei.
O problema é que foi o clube certo na hora errada.
Juro que não ficou mágoa nenhuma. Tanto que tenho boas relações com o Fernando (Casal de Rey, presidente do São Paulo).
Fui eu quem ligou para ele pedindo a liberação do Guido (juvenil do São Paulo) para jogar no MetroStars.
Folha - E o que se passou, então, de fato no São Paulo? Discutiu-se muito eventual boicote de alguns jogadores.
Parreira - Eu diria que o que se passou foi que a torcida do São Paulo estava acostumada a só vencer, vencer e vencer e não admitia a derrota.
Ela precisa de um culpado e não queria ver que o time era deficiente em algumas posições.
Eu sempre falei que o São Paulo tinha carências. E a prova é que eu não estou mais lá e o time continua com dificuldades para se acertar.

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