São Paulo, domingo, 30 de março de 1997
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Parece um galã!

MARCELO MANSFIELD
ESPECIAL PARA A FOLHA

Todo garoto já ouviu a frase acima de alguma tia quando, na entrada da puberdade e usando seu primeiro terno, a encontra no casamento daquele parente distante. Ser chamado de galã pode fazer mais pelo ego de um rapazinho do que ser o primeiro nome da lista na escalação do time da escola.
Na TV o galã é tão importante quanto a heroína, o vilão, o comediante ou a mulher sofisticada. Só que sem ele não existe romance.
Hoje em dia qualquer homem que consiga fazer dez flexões e manter-se sem camisa por mais de três capítulos é chamado de galã. Mas antes...
Não bastava ser bonito, tinha de ser talentoso e cuidar de sua imagem com a mesma dedicação com a qual o joalheiro lapida um diamante.
A própria palavra já diz tudo: ser galante... Isso significa que ele incendiaria uma plantação inteira com seu olhar, mas seria incapaz de acender um cigarro sem a expressa permissão de sua companheira.
Sua voz masculina promete o paraíso, mas seu beijo é a melhor tradução de uma orgia no inferno. O galã também tem que saber a hora de parar -a conquista e a carreira. Saber mudar o personagem é uma arte que nem todos dominam.
Walter Forster, o pai de todos, reinou absoluto nos anos 50. Hélio Souto arrastava a mulherada para o cinema com seu físico de arrancar suspiros. Na TV, estrelou "Olhos que Amei", "Um Rosto Perdido", "A Ré Misteriosa" e, claro, "A Moça que Veio de Longe", que o colocaria no primeiro lugar entre os heróis nacionais.
Quando sentiu que os papéis começaram a cair, não se fez de rogado e tornou-se sua própria caricatura, transformando seu Baby Stompanato de "O Super Plá" num clássico. O sucesso foi tanto, que o autor, Bráulio Pedroso, transformou o personagem em peça, "A Vida Escrachada de Joana Martini e Baby Stompanato".
Depois, faria outro personagem inesquecível, como o irmão de Ilka Soares em "Locomotivas".
Fulvio Stefanini fez o mesmo, criando Tonico Bastos, em "Gabriela" e quase roubando a cena da protagonista. Com seu nome, seu rosto e sua simpatia de italiano, arrebataram a mulherada em casa e as estrelas com quem contracenara na década anterior nas novelas da Excelsior.
Francisco Cuoco saiu da Escola de Arte Dramática direto para o posto médico de "Redenção", onde sua estampa conquistava não uma, mas três mulheres da cidade. O tempo passou, mas não ele. Virou pai de Elisângela em "O Cafona" e o Carlão, de "Pecado Capital", onde seu personagem suburbano o afastou da vida de galã e deu novo impulso na carreira.
Nos seus filmes da década de 50 ao lado de Eliana ou Ilka Soares, John Herbert fazia o tipo garotão que toda mãe gostaria de ter como genro.
Na TV, correu para a comédia em "Alô Doçura", ao lado de Eva Wilma. A peça os transformou num dos casais mais conhecidos do país. Hoje ele está em "Malhação", onde causa inveja na garotada do elenco com seu tipo de garotão.
Se os novos galãs que saem em fornadas hoje em dia soubessem dirigir suas carreiras como os seus colegas aqui citados, ainda poderiam pensar em mais alguns bons anos de fama.
Mas parece que a coisa não é bem assim. Alguns deles, que já começam pentear-se à moda Pompadour para esconder as entradas e a usar camadas e mais camadas de durepox na esperança de esconder as incomodas e inevitáveis ruguinhas, insistem em perseguir os papéis que deveriam ser entregues a pessoas mais novas.

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