São Paulo, segunda-feira, 31 de março de 1997
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Marchando em busca de outro Brasil

PATRICIA ZORZAN
ENVIADA ESPECIAL A SALES OLIVEIRA

Huli Marcos Zang, 19, Edvar Lavratti, 21, e Carlos Alberto Souza, 21, fazem parte da equipe que comanda cerca de 550 trabalhadores em uma caminhada de São Paulo até Brasília.
O objetivo da viagem -que começou no dia 17 de fevereiro e deve acabar em 17 de abril, quando o massacre de 19 sem-terra em Eldorado do Carajás (PA) completa um ano- é chamar a atenção do governo para a reforma agrária.
Em comum, além da defesa fanática do movimento, os três têm a responsabilidade de terem se tornado líderes quando jovens dessa idade costumam dedicar seu tempo aos estudos e às namoradas.
"Sinto falta da família, de não ter uma casa. Mas isso são pequenas coisas que você acaba esquecendo diante do que recebe da luta", declara Huli, que veio do Rio Grande do Sul para participar da marcha.
"A maioria dos jovens acaba se apaixonando pelo movimento porque ele não nos impede de fazer nada e acrescenta um monte de idéias. Você consegue participar das decisões políticas do país, opinar pelo que você acha certo", explica Edvar.
Eles herdaram o discurso uniforme dos dias que passaram na escola de lideranças do movimento e da disciplina rígida do MST.
"Aprendemos a conhecer a realidade para poder transformar as coisas, para que esse país consiga ser melhor", afirma Edvar.
Eleitores do PT, ex-cara-pintadas e com críticas contra Fernando Henrique Cardoso na ponta da língua, abandonaram os estudos convencionais, mas prometem voltar para a escola.
Huli e Edvar chegaram a entrar na faculdade. Carlos, o único casado entre os três, estudou só até a 6ª série.
Segundo eles, 70% dos membros da marcha são jovens com uma média de idade entre 24 e 25 anos. "É coisa de jovem enfrentar o desafio de caminhar mais de 1.000 km por uma causa", diz Huli.
Os coordenadores afirmam ainda que nunca pensaram na possibilidade de morrer durante um conflito. Todos já participaram de ocupações de terras.
"Hoje a maioria dos jovens morre por drogas, por estarem assaltando, em batidas de carro. Pelo menos estou lutando por um ideal", declara Carlos.

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