São Paulo, quarta-feira, 2 de abril de 1997
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Basta de hipocrisia

ANTONIO NETO

Há um divisor de águas no movimento sindical que precisa ficar bem claro. De um lado estamos nós, da Central Geral dos Trabalhadores - Brasil; do outro, a CUT e a FS. O que compõe esse divisor são princípios.
Nós defendemos a unicidade sindical, o sistema confederativo e a Justiça do Trabalho. Deles só dá para saber que, junto com o governo federal, levantam bandeiras neoliberais e tentam, por meio da desestruturação da organização sindical, quer seja com a eliminação das contribuições, quer seja com a pluralidade -vulgo pulverização-, encaminhar os trabalhadores, gradativamente, aos porões da exclusão social.
Neste país de CPIs frustrantes, umas mais outras menos, falar em dinheiro tornou-se tabu para algumas pessoas que estão em postos de comando, e, por isso, alguns dirigentes sindicais mostram-se constrangidos em reconhecer que luta nenhuma vai para a frente se não houver investimentos. E para investir é preciso dinheiro.
A CGT - Brasil vem, publicamente, defender que os sindicatos devem ter dinheiro, sim. Dinheiro para promover a luta dos trabalhadores, realizar campanhas salariais, proporcionar assistência médica e jurídica, desenvolver atividades socioculturais e investir na formação profissional.
Queremos dinheiro, sim, para nos comunicar com os trabalhadores por intermédio de anúncios em TVs e rádios e para divulgar na sociedade as informações que realmente interessam ao trabalhador, como hoje tantos sindicatos e até mesmo centrais já o fazem; queremos modernizar nossas instalações, nossos equipamentos, usar computadores, pagar bons funcionários, ter instrumentos e comodidades operacionais para atender bem todos os trabalhadores, associados ou não.
Destruir a forma de custeio da força dos trabalhadores, como querem governo federal, CUT e FS, é minar sua organização, abrindo caminho para o pluralismo sindical, com a criação de vários sindicatos no mesmo território, chegando ao cúmulo de haver um sindicato em cada empresa.
Agora, vejamos: cerca de 90% das empresas no Brasil têm menos de cem empregados e aproximadamente 95% do comércio emprega menos de dez trabalhadores.
Logo, esses trabalhadores não estarão representados por ninguém, pois, abolida a representatividade por categoria, que força terão as entidades nessa pulverização sindical?
A Central Geral dos Trabalhadores - Brasil defende três tipos de arrecadação: a contribuição sindical e a contribuição confederativa, que devem ser compulsórias, e a mensalidade dos associados, com valor definido em assembléia para garantir benefícios exclusivos a eles.
O valor da confederativa também deve ser estabelecido pela assembléia da categoria, incluindo associados ou não, estabelecendo-se cotas para as confederações e federações e um percentual a ser repassado à central a que o sindicato estiver filiado.
Quanto à contribuição sindical, equivalente ao desconto de um dia de trabalho por ano de cada trabalhador e dividida em 60% para sindicatos, 15% para federações, 5% para confederações e 20% para a "conta emprego e salário" do Ministério do Trabalho, propomos uma nova forma de administração -já que ninguém fala, mesmo aqueles que revestem-se de guardiões do dinheiro do trabalhador, que esses 20%, desde 1989, estão parados.
Isso porque, ao ser vedada pela Constituição brasileira qualquer interferência ou intervenção do poder público na organização sindical, a "conta emprego" ficou bloqueada. Ou seja, parte do dinheiro descontado do trabalhador não retorna a ele em forma de nenhum benefício.
Nossa proposta é que essa conta seja gerida pelo Conselho Nacional do Trabalho, órgão tripartite que já existe e que é formado por representantes dos empresários, dos trabalhadores e do governo, e que seus recursos sejam destinados à reestruturação e aparelhamento das delegacias e subdelegacias regionais do trabalho, para que elas possam, cada vez mais e melhor, fiscalizar as convenções e acordos coletivos de trabalho e as normas regulamentadoras de higiene, saúde, segurança e medicina do trabalho.
Nós repetimos: tanto a contribuição confederativa quanto a sindical devem ser compulsórias, pois, tendo o mínimo necessário à sobrevivência e ao planejamento das entidades sindicais, teremos resguardada a independência do movimento sindical.
São essas as propostas da CGT - Brasil, mas ao governo federal e a uma parcela do empresariado elas pouco interessam. Afinal, com cúmplices sindicais tão competentes, é fácil fingir à nação que há consenso geral.

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