São Paulo, quarta-feira, 2 de abril de 1997
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Cruzada contra o inútil segundo volante

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

É com indisfarçável alegria e mal contida imodéstia que me vejo muito bem acompanhado de dois ilustres analistas do futebol nesta cruzada brancaleônica contra a satânica figura do segundo volante cabeça-de-bagre, clone do primeiro: o neo-comentarista Tostão e o famoso vizinho do lado, Juca Kfouri.
Ambos, como este pobre e cansado escrivinhador vem clamando há séculos, querem ver Leonardo ao lado de Mauro Silva. Não só porque tal providência haveria de conferir mais criatividade à saída de bola da nossa seleção, como também abriria mais uma vaga no meio-campo, onde o coração de Zagallo balança entre Juninho, Giovanni, Djalminha e Denílson (sem contar Rivaldo, que já merece redenção).
Já discuti isso com Zagallo. Resposta do treinador: seu esquema prevê três médios, na verdade, posto que Mauro Silva funciona como um terceiro zagueiro, fechando o miolo da zaga, quando somos atacados. Por isso a história do número um, que tem vacilado às costas de Juninho, Giovanni e Djalminha.
Em tese, até que seria aceitável, caso o esquema oferecesse um grau extremo de segurança à nossa defesa. Mas, na prática, o que se vê é o contrário: nunca tivemos um sistema defensivo tão vulnerável, independendo de qual seja a formação dos nossos zagueiros.
Pois, o que temos é Leonardo enfiado lá na frente, como meia-esquerda, e os dois volantes jogando em linha à frente de uma zaga igualmente sem profundidade. Como nossos laterais -Cafu e Roberto Carlos- sofrem de compulsão ofensiva, passamos a ser presas fáceis dos contragolpes inimigos, quaisquer que sejam as credenciais deles. E, mesmo que Leonardo recue, teremos apenas um terceiro volante, duplicando o que o saudoso Saldanha chamava de linha burra. Resultado: quem passar por dois passou por sete.
Melhor seria Zagallo escalonar seu time, como bem ensinava o húngaro Bella Guttman: os laterais se alternando no ataque; um zagueiro na sobra, outro no combate; um cabeça-de-área tipo limpador de pára-brisas, outro saindo para o jogo e dois meias -um, mais à frente para se juntar aos dois atacantes.
Nesse caso, Leonardo se encaixaria perfeitamente ao lado de Mauro Silva, deixando com Giovanni ou Djalminha a função de se aproximar mais a Romário e Ronaldo. Na outra meia, aconselha-se que seja alguém, além de criativo, mais combativo. Alguém como Rivaldo ou Denílson.
Tente, Zagallo, tente, ao menos uma vez. Se não em respeito a estes dois eméritos pernas-de-pau -o Juca e eu- , pelo menos em homenagem a Tostão, que, lá dentro das quatro linhas, há 27 anos, desfez um dos mais cruéis equívocos da sua gloriosa vida de campeão.
*
Ah, sim, aproveite o embalo e, na próxima convocação, chame esse Vágner, que há tempos é o mais importante jogador do Santos de Wanderley, como já o era, ao lado de Giovanni, no time de Cabralzinho, vice-campeão brasileiro. Não só seria opção para Leonardo, como, de quebra, a seleção ganharia um curinga de ouro.

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