São Paulo, quarta-feira, 2 de abril de 1997
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Us3 volta verborrágico

CARLOS CALADO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Três anos depois de colecionar discos de ouro na Inglaterra, nos EUA e no Japão com seu dançante jazz-rap, a banda britânica Us3 lança "Broadway & 52nd", seu esperado segundo álbum.
Sem a presença do produtor Mel Simpson, que formulou o conceito sonoro do Us3 junto com o DJ Geoff Wilkinson (em 1991), a banda reaparece com outra formação, incluindo novos rappers.
O nome Us3 (inspirado em uma antiga gravação do pianista Horace Parlan) passa a fazer sentido.
Agora, além de Wilkinson, apenas os rappers nova-iorquinos Shabaan Sahdeeq e KCB compõem a formação oficial do grupo.
Apesar das mudanças, quem ouve "Come On Everybody", o primeiro "single" do novo álbum, pode achar que se trata de uma nova versão de "Cantaloop", o hit que levou o Us3 ao topo das paradas no gênero, em 1994.
A batida e a inflexão do rap são quase as mesmas, reforçadas por um piano acústico bem ao estilo "funky" de Herbie Hancock.
A intenção de pegar carona no sucesso anterior é escancarada.
Sem a mesma experiência em estúdios de seu ex-parceiro, o DJ Wilkinson optou por investir mais no palavreado nervoso dos rappers, acompanhado por intervenções instrumentais de sopros, teclados e guitarra.
Os "samples" de gravações clássicas de jazz dos anos 50 e 60 -ingredientes que trouxeram um sabor especial ao primeiro CD da banda- diminuíram radicalmente: apenas dois desta vez.
A faixa "Caught Up in a Struggle", uma das melhores do álbum, sampleia trechos de "Sayonara Blues", do pianista Horace Silver.
Um "sample" de "Indian Song", do saxofonista Wayne Shorter, ajuda a temperar a faixa "Snakes".
"Déjà vu"
Apesar de uma certa sensação geral de "déjà vu", há algumas novidades. Como a faixa "Sheep", que mistura uma batida mais lenta, com uma guitarra bem jazzística e vocais recitados, que lembram poesia " beat".
Já a faixa "Soul Brother" acerta ao misturar rap com um irresistível "groove" de "soul music", unindo dois ramos de uma mesma árvore musical.
Não faltam também bons solos de jazzistas da cena inglesa, como o saxofonista Steve Williamson, o trombonista Dennis Rollins e o guitarrista Tony Rémy, que já participaram do primeiro álbum.
O que chega a incomodar, ao longo das 14 faixas, é a verborragia excessiva dos rappers. Mas quem estiver interessado apenas em dançar pode se divertir bastante com o novo trabalho do Us3.
(CC)

Disco: Broadway & 52nd
Banda: Us3
Lançamento: Blue Note/EMI
Quanto: R$ 20, em média

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