São Paulo, sexta-feira, 4 de abril de 1997
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'Este é um país de brincadeira'

Motta fala em 'surrealismo' no Congresso

ELVIRA LOBATO
ENVIADA ESPECIAL A BRASÍLIA

Durante a entrevista de cinco horas realizada anteontem em Brasília, para jornalistas de todo o país e correspondentes estrangeiros, o ministro das Comunicações, Sérgio Motta, não poupou o Congresso Nacional e funcionários da Justiça.
O ministro disse que foi obrigado a submeter o novo regulamento de TV paga por cabo a uma "entidade abstrata" do Congresso: o Conselho de Comunicação, previsto na Constituição de 88, que nunca foi criado pelos congressistas.
Motta descreveu a situação -segundo ele, "surrealista"- vivida pelo ministério. Disse que enviou o regulamento ao senador Antonio Carlos Magalhães, presidente do Congresso, para que fosse ouvido o conselho.
ACM, por sua vez, enviou o texto à Comissão de Ciência e Tecnologia da Câmara.
A comissão, por seu turno, designou um relator para responder que, inexistindo o conselho, ele não opinaria.
"Este é um país de brincadeira. Consultamos uma entidade abstrata durante um mês. É surrealista", disse o ministro.
Motta sugeriu também que existem funcionários da Justiça envolvidos na especulação com os recibos da subscrição de ações da Telebrás, referentes a um aumento de capital feito em 90 que é objeto de ação.
O aumento de capital foi suspenso quando 36% dos acionistas já haviam feito a subscrição. Na época, a Telebrás entrou na Justiça para concluir o aumento de capital e emitiu os recibos para aqueles que já haviam feito a subscrição. Hoje o governo torce para que a empresa perca a ação.
Ao comentar a alta desses recibos no mercado, disse: "Outro dia deu um tumulto. Vocês precisam tomar cuidado. Estou desconfiado de grupos, até de funcionários de alguns níveis da Justiça. Não a Justiça, mas de gente que tem acesso".
Motta disse que mesmo que a Justiça decida em última instância pela conclusão do processo, a medida só poderá ser adotada se houver concordância da assembléia de acionistas.
"Lamentavelmente, para os especuladores, nós temos a maioria do capital votante da Telebrás e, se depender de mim, votarei contra. Isto é uma vergonha. Me desculpem plagiar o Bóris. Espero que este mercado de títulos caia amanhã, que despenque e que haja até alguns casos de suicídio."

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