São Paulo, sexta-feira, 4 de abril de 1997 |
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Italiano Benedetto Lupo abre evento
JOÃO BATISTA NATALI
Em entrevista à Folha, Lupo afirma que toda música é capaz de transmitir emoções. Se isso não ocorrer, a suspeita deve recair sobre a ineficiência do intérprete. Leia os principais trechos de sua entrevista. (JBN) * Folha - Qual a vantagem de se promover mundialmente um ano dedicado a Franz Schubert? Benedetto Lupo - Os músicos e o público têm a oportunidade de frequentar intensamente um repertório que executavam ou ouviam de forma ocasional. Folha - Brahms também é objeto de um centenário, o de sua morte. Não é injusto fazê-lo objeto de homenagens menores? Lupo - Talvez Brahms seja bem mais executado do que Schubert. A efeméride agora corrige uma injustiça que vinha sendo cometida, ao menos quanto ao repertório habitual nos países europeus. Folha - Por falar em Europa, como a música tem se adaptando com os cortes de subsídios? Lupo - A curto prazo, os efeitos são prejudiciais à música. Mas, a longo prazo, os produtores deverão ficar mais atentos para o fator qualidade, para o público. Quando se lida com dinheiro do governo, a tendência é para uma certa displicência. Folha - A ênfase da programação como produto da iniciativa privada não estreitaria o repertório, já que o público só viria para ouvir o que já conhece? Lupo - Este é, com certeza, o reverso da mesma moeda. A meu ver, precisamos de verbas oficiais, mas não apenas delas. A música não é só entretenimento. É também educação. Folha - Essa educação já não existiria como predisposição num país como a Itália? Lupo - Em parte isso não é verdade. Não dispomos na Itália de salas de concerto amplas e modernas. Temos poucas casas de ópera. Há muito a ser feito. Folha - Há hoje um rejuvenescimento do público italiano? Lupo - Há uma nova geração frequentando teatros líricos -é bom sinal. Talvez o público pudesse ser ainda mais jovem, se os ingressos fossem mais baratos. Folha - Há hoje uma globalização das gravações. Isso não implica, para sua geração, uma concorrência bem maior? Lupo - Há um fundo de verdade nesse reflexo da mundialização na música. Mas existem critérios perenes, como a busca da qualidade, que a meu ver independem do mercado. Folha - Não haveria uma maneira de emocionalizar demagogicamente as interpretações, como forma de atingir classes médias de EUA e Alemanha? Lupo - Não creio que seja assim. Toda e qualquer música pode provocar emoções. Se determinada música não chega a transmitir emoção, há algo de errado com o intérprete. Texto Anterior: Schubert é celebrado em programa gratuito Próximo Texto: Dificuldade não estimula pianista José Cocarelli Índice |
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