São Paulo, sexta-feira, 4 de abril de 1997
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Italiano Benedetto Lupo abre evento

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

Se não fosse pela vulgaridade dos livros de recordes, Benedetto Lupo, 33, estaria por certo em algum deles, por acumular tantos primeiros prêmios em concursos italianos e internacionais de piano. São sete, entre eles o francês Alfred Cortot e o britânico Terence Judd. Ele abrirá amanhã à noite, com a execução de três sonatas de Schubert, a "Schubertíade".
Em entrevista à Folha, Lupo afirma que toda música é capaz de transmitir emoções. Se isso não ocorrer, a suspeita deve recair sobre a ineficiência do intérprete. Leia os principais trechos de sua entrevista.
(JBN)
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Folha - Qual a vantagem de se promover mundialmente um ano dedicado a Franz Schubert?
Benedetto Lupo - Os músicos e o público têm a oportunidade de frequentar intensamente um repertório que executavam ou ouviam de forma ocasional.
Folha - Brahms também é objeto de um centenário, o de sua morte. Não é injusto fazê-lo objeto de homenagens menores?
Lupo - Talvez Brahms seja bem mais executado do que Schubert. A efeméride agora corrige uma injustiça que vinha sendo cometida, ao menos quanto ao repertório habitual nos países europeus.
Folha - Por falar em Europa, como a música tem se adaptando com os cortes de subsídios?
Lupo - A curto prazo, os efeitos são prejudiciais à música. Mas, a longo prazo, os produtores deverão ficar mais atentos para o fator qualidade, para o público. Quando se lida com dinheiro do governo, a tendência é para uma certa displicência.
Folha - A ênfase da programação como produto da iniciativa privada não estreitaria o repertório, já que o público só viria para ouvir o que já conhece?
Lupo - Este é, com certeza, o reverso da mesma moeda. A meu ver, precisamos de verbas oficiais, mas não apenas delas. A música não é só entretenimento. É também educação.
Folha - Essa educação já não existiria como predisposição num país como a Itália?
Lupo - Em parte isso não é verdade. Não dispomos na Itália de salas de concerto amplas e modernas. Temos poucas casas de ópera. Há muito a ser feito.
Folha - Há hoje um rejuvenescimento do público italiano?
Lupo - Há uma nova geração frequentando teatros líricos -é bom sinal. Talvez o público pudesse ser ainda mais jovem, se os ingressos fossem mais baratos.
Folha - Há hoje uma globalização das gravações. Isso não implica, para sua geração, uma concorrência bem maior?
Lupo - Há um fundo de verdade nesse reflexo da mundialização na música. Mas existem critérios perenes, como a busca da qualidade, que a meu ver independem do mercado.
Folha - Não haveria uma maneira de emocionalizar demagogicamente as interpretações, como forma de atingir classes médias de EUA e Alemanha?
Lupo - Não creio que seja assim. Toda e qualquer música pode provocar emoções. Se determinada música não chega a transmitir emoção, há algo de errado com o intérprete.

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