São Paulo, sábado, 5 de abril de 1997
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Mulheres contam como eram as orgias

PRISCILA LAMBERT LUCIANA SCHNEIDER

PRISCILA LAMBERT; LUCIANA SCHNEIDER
DA REPORTAGEM LOCAL

Jovem disse que foi estuprada à beira de represa; PMs acusados de promover 'festas' só devem falar à polícia

A estudante M.G.C., 18, disse ontem, em entrevista à Folha, ter sido estuprada pelo soldado José Messias Miranda Silva, em 95, quando tinha 16 anos.
M.G. esteve presente nas orgias promovidas por policiais militares no quartel da 2ª Companhia do 26º Batalhão da PM, em Mairiporã (Grande São Paulo).
Segundo ela, o soldado a teria violentado à beira da represa de Mairiporã. "Ele estava drogado e disse que se eu recusasse iria me afogar na represa."
Ela afirmou que foi ao quartel por duas vezes, mas nunca manteve relações sexuais com nenhum policial.
"Mas A.F.S., 22, e G.A.L.B., 16, (que também prestaram depoimento anteontem sobre o caso) participavam de tudo, sem cobrar."
A estudante diz que os PMs eram violentos quando alguma menina se recusava a sair com eles. Em uma das festas, M.G. afirma ter sido forçada pelo soldado Alberto Nunes dos Santos a fazer sexo oral.
Ela diz ainda que foi coagida a tirar a blusa no quartel pelo soldado Paulo Rogério Di Gennaro.
Segundo o major Moacir Lopes Silva Jr., do 26º Batalhão, essas declarações constam nos autos das investigações.
O soldado Gennaro prestou depoimento na tarde de ontem, em Franco da Rocha. Os outros dois policiais serão chamados para prestar depoimento posteriormente.
Os policiais acusados foram procurados pela Folha, mas o major Moacir disse que eles só devem prestar esclarecimentos à polícia.
As fotos que registram as orgias dos policiais no quartel, tiradas pela menor G.A., estão em poder do comandante do batalhão.
Segundo o pai de G., Pedro Bueno, 44, no início da semana, um grupo de policiais esteve em sua casa para exigir o álbum de fotos.
"Eles gritavam que, se não entregássemos, iriam acabar com a minha filha." Bueno diz que a menina só entregou o álbum ao comandante no dia seguinte. Ele confirma que sua filha saía com PMs desde os 13 anos.
A irmã de G.A., L.M.L.B., 14, contou à Folha que chegou a ir com G. a uma das orgias, mas não participou. "Minha irmã entrou em um quartinho com um PM e outra amiga, casada, foi com outro. Fiquei esperando lá fora."
Além disso, ela afirma ter sido abordada por um policial chamado Teixeira, que a teria levado a um bairro distante e tentado forçar o ato sexual. "Saí correndo e fugi."
Apesar de aparecer em algumas das fotos, segundo o major Moacir, A.F.S., grávida de sete meses, negou à reportagem seu envolvimento.
Um oficial e um sargento do 26º Batalhão estiveram ontem em Indaiatuba (110 km de SP), para procurar outra menor, C., que também teria participado das orgias.
Ontem, o juiz José Álvaro Machado Marques, da 4ª Auditoria do Tribunal de Justiça Militar, decretou a prisão temporária por cinco dias dos 11 policiais.
Segundo o promotor Gilberto Nonaka, eles estão sendo acusados de estupro, atentado violento ao pudor, corrupção de menores e atos libidinosos em quartel.
Eles foram transferidos para o presídio militar Romão Gomes.

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