São Paulo, sábado, 5 de abril de 1997
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Lei liberal permite 'ditadura' nos clubes

MARCELO DAMATO
DA REPORTAGEM LOCAL

A substituição de uma lei aprovada durante o regime militar por outra mais "democrática" aumentou a ditadura interna em alguns clubes e federações. Esse fenômeno deve se alastrar por vários outros.
Enquanto o Congresso discute uma emenda constitucional que permite a reeleição dos ocupantes de cargos no Poder Executivo, no esporte já se permite a reeleição do presidente por número ilimitado de vezes.
O resultado é que nesses clubes e federações reduziu-se a chance de a oposição chegar ao poder.
Essas mudanças aconteceram, por exemplo, no Corinthians, Palmeiras, São Paulo, Federação Paulista de Futebol (FPF) e Confederação Brasileira de Futebol (CBF), a primeira a mudar.
Justiça
No Corinthians e no Palmeiras, as reformas, pelo menos em parte, estão sendo questionadas na Justiça. No Corinthians, existem chances reais de elas serem anuladas, o que pode levar o clube a um caos jurídico sem precedentes.
No São Paulo, não houve quase contestação às reformas. O clube decidiu aumentar a proporção de conselheiros vitalícios de 50% para 67%. Para contentar a oposição, decidiu-se que as 40 vagas de vitalícios que foram criadas serão rateadas entre todas as facções.
Um líder político são-paulino ouvido pela Folha defendeu a medida com o argumento de que entre os sócios e conselheiros eleitos do clube há palmeirenses e corintianos, que, segundo ele, não teriam razão em querer o bem do clube.
No Palmeiras, a parte não questionada da reforma é aquela que reduz os conselheiros eleitos de 150 para 100 e eleva os biônicos e os vitalícios, separadamente, de 75 para 100 (veja quadro).
Idade
Outra consequência dessas duas reformas é que em ambos os conselhos a idade média dos seus membros deve aumentar significativamente.
"Para ser conselheiro vitalício, a pessoa tem que ter muitos anos de serviço prestado ao clube", diz Fábio de Campos Lilla, conselheiro vitalício do Palmeiras.
A maioria dos conselheiros vitalícios desses clubes tem mais do que 50 anos. Grande parte tem além de 60.
"O problema é que muitas pessoas fazem tudo só para ter uma carteirinha de conselheiro. É gente que já se aposentou, perdeu o prestígio que já teve e depende da carteirinha para manter o amor próprio", disse o vice-presidente de um grande clube paulistano.
Autoritarismo
A lei 6.251/77, que foi revogada pela Lei Zico, de 1993, faz parte do "entulho autoritário", como passou a ser chamada boa parte das leis criadas durante o regime militar, que teve como uma de suas marcas a forte interferência do Estado na vida civil, inclusive no esporte.
Ela impõe uma série de medidas no funcionamento dos clubes e federações.
Paradoxalmente, existe nelas uma preocupação em manter um certo grau de democracia interna, democracia essa que em vários clubes está sendo demolida.

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