São Paulo, domingo, 6 de abril de 1997
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"Muito peão vai virar patrão"

JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO
DO ENVIADO ESPECIAL

O produtor gaúcho Inácio Webler, 52, está preocupado. Em 1983, ele tinha 84 hectares em Toledo, no Paraná. Hoje, possui 7,4 mil hectares e é o segundo maior produtor de soja de Sapezal. Fatura US$ 3 milhões por ano.
A preocupação de Webler é com os filhos. "Dos quatro (dois homens e duas mulheres), três vão voltar a ser empregados", diz, relembrando sua própria trajetória.
É que apenas uma filha trabalha com ele na fazenda. "É meu braço direito". A outra foi ser professora. Os dois filhos, para sua decepção, viraram caminhoneiros.
"Para ter sucesso aqui, precisa ficar na terra, trabalhar na terra. Ser colono. Mas, para meus filhos, eu acho que isso é uma humilhação", lamenta-se.
Sua história sempre foi ligada à terra. "Comecei roçando mato para os outros". Economizou e conseguiu comprar 12 hectares. Plantava trigo, soja e criava porcos. O que ganhava, investia em terras.
Em 1981, aceitou o convite de um corretor para visitar o Mato Grosso. Não tinha intenção de comprar nada. Só topou ir porque nunca tinha viajado de avião e morria de vontade de voar.
Gostou do chapadão e acabou comprando 3 mil hectares por US$ 23,00 por hectare. Hoje, cada hectare já produzindo não sai por menos de US$ 1 mil.
"Deixei o Paraná por ambição", afirma Webler. Esse é um sentimento que, hoje, ele identifica mais em estranhos no que nos filhos. "Tem muito peão aí que vai virar patrão. É só uma questão de tempo".
(JRT)

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