São Paulo, domingo, 6 de abril de 1997
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Objetos de estimação

ADRIANA VIEIRA

Utensílios velhos, mas inseparáveis
Cozinheiros de mão-cheia escondem, além de ingredientes e receitas, verdadeiras "relíquias" nos armários e gavetas de suas cozinhas.
São objetos de estimação inseparáveis -facas, colheres de pau, rolos de macarrão e panelas-, cada um com sua história, que não são trocados nem pelo utensílio mais moderno do mercado.
A psicanalista Ana Verônica Mautner, 61, sempre usa uma panela velha de pedra sabão para fazer o prato húngaro gulyas (um ensopado com páprica).
"Comprei essa panela em 1959, na minha lua-de-mel em Ouro Preto (MG). Até hoje, ninguém conseguiu quebrá-la", conta, com orgulho.
Outra mania de Ana Verônica são as colheres de pau, que ela tem em diversos tamanhos. Todas foram compradas no Nordeste. "As melhores colheres de pau são artesanais, feitas à mão, só encontradas lá. Eu cozinho como se fosse antigamente, antes de existir o liquidificador."
Embora seja adepta dos equipamentos modernos, a cozinheira Elza Miguel, 43, sempre consulta um livro de receitas da Dona Benta, que ela herdou de sua mãe. "Ele é antiguíssimo, está todo amarelado e amassado. Mas me dá sorte, é como se fosse uma bíblia da cozinha para mim", diz Elza.
A cozinheira, que prepara jantares para festas em residências, conta que também não se separa de um relógio de forno que ganhou de uma família libanesa. "Essa família foi importante para mim, porque foi nessa casa que me tornei uma verdadeira cozinheira."
Dona de um restaurante judaico que leva o seu nome, Cecília Judkowitch, 55, usa sempre um rolo de macarrão que sua mãe trouxe da Polônia. O utensílio tem mais de 70 anos e "está até fininho". "Não há rolo melhor para abrir a massa folhada do strudel. Além disso, sempre lembro de minha mãe e minha avó quando uso", conta.
Entre os apetrechos de Cecília, há também uma machadinha, que herdou da mãe. Ela sempre usa a faca quando prepara o prato gefilte fish (bolinho de peixe típico judaico) para a sua família.
Até o chef francês Emmanuel Bassoleil, 35, do restaurante Roanne, tem seu objeto de estimação. É uma faca "velha com o cabo gasto", que está com ele há mais de 15 anos.
"Já preparei dois jantares presidenciais com essa faca. O primeiro, em 1979, na França. O segundo, neste ano, quando Jacques Chirac (atual presidente da França) veio ao Brasil", diz.

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