São Paulo, domingo, 6 de abril de 1997
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Emissoras cadastram cinegrafistas

DANIEL CASTRO
DA REPORTAGEM LOCAL

Graças a um cinegrafista amador, na última semana o "Jornal Nacional" voltou a superar a casa dos 40 pontos no Ibope, uma audiência superior a 3,2 milhões de telespectadores na Grande São Paulo, onde cada ponto equivale a cerca de 80 mil pessoas vendo televisão.
O telejornal, que em janeiro chegou a registrar 32 pontos, a mais baixa audiência de sua história, conseguiu picos de até 45 pontos com imagens de policiais militares humilhando e espancando pessoas durante blitze na favela Naval, em Diadema (Grande São Paulo).
A fita, que registra o momento em que soldado Nelson Soares da Silva Jr. atira no mecânico Mário José Josino, que morreu, repercutiu no mundo todo.
A identidade do autor das imagens é mantida em sigilo pela Rede Globo. Sobre o assunto, o jornalista Marcelo Rezende, autor da reportagem, diz apenas que o cinegrafista "é uma pessoa que eu conheço" (leia abaixo).
As imagens de Diadema trouxeram à tona a figura do cinegrafista amador, um personagem cada vez mais importante no telejornalismo brasileiro.
Desde que foram incentivados pelo "Aqui Agora", no SBT, a partir de 1991, os cinegrafistas amadores se multiplicaram. Alguns até se profissionalizaram.
Hoje, redes como Globo, SBT, Bandeirantes e CNT mantêm cadastros de cinegrafistas amadores. Essas emissoras também fixaram tabelas de preços para flagrantes feitos por amadores.
Na Globo, paga-se no mínimo R$ 180 por uma fita. O valor é "negociável", dependendo do conteúdo e da qualidade.
Na Bandeirantes, o mínimo é de R$ 100. "Mas a gente paga até R$ 400 por uma imagem de incêndio ou de resgate", diz o jornalista José Occhiuso, responsável pela avaliação do material ofertado. "A gente recebe até 30 ofertas de cinegrafistas por mês, mas só três ou quatro são aproveitáveis", diz.
Segundo Albino Castro, um dos diretores de jornalismo do SBT, a emissora mantém cerca de 250 cinegrafistas cadastrados. A emissora paga entre R$ 200 e 500 por fita.
"O SBT sempre usou imagens de amadores. Esses cinegrafistas são fundamentais. São leitores munidos de câmeras", conta Castro, para quem o "Jornal Nacional" se "aproxima" do "Aqui Agora" quando exibe imagens de amadores.
A CNT diz ter um cadastro com 800 cinegrafistas amadores no país todo. A emissora paga de R$ 200 a R$ 1.000 por fita.
A rede paranaense tem até "cinegrafistas amadores fixos", que fornecem sistematicamente material para a emissora, principalmente perseguições policiais.
Marcelo Tapai, 27, é um deles. Em 1992, ele comprou uma câmera caseira. "Um dia, eu voltava para casa e vi um acidente grave. Peguei minha câmera e fiz a matéria. Primeiro, fui na Globo. Eles nem viram a fita. Fui ao SBT e o 'Aqui Agora' adorou."
Desde então, Tapai não largou mais a câmera. Abandonou o curso de engenharia mecânica e entrou numa faculdade de jornalismo. Hoje, trabalha para a TV Senac, como profissional.
Tapai afirma que dorme ouvindo um rádio sintonizado em frequência exclusiva do Corpo de Bombeiros. "Quando ouço uma sirene, fico arrepiado e corro atrás", diz.

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