São Paulo, terça-feira, 8 de abril de 1997
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"QUANTA" FAIXA POR FAIXA

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REDAÇÃO

Conheça a seguir "Quanta", o novo disco de Gilberto Gil, faixa por faixa.
(PAS)
Quanta - O disco começa com dueto de falsetes entre Gil e Milton Nascimento, em letra que recorre à tática tropicalista de confrontar futuro ("quântico") e tradição ("cântico").
Ciência e Arte - A tradição toma conta da segunda faixa, composição dos sambistas da Mangueira Cartola e Carlos Cachaça. A letra ganha referência adicional ao físico Cesar Lattes e ao pintor Pedro Américo.
Estrela - "Há de surgir/ uma estrela no céu/ cada vez que ocê sorrir", canta, secundado por tablas e congas de Suzano.
Dança de Shiva - A contraposição se dá aqui entre a divindade hinduísta Shiva e a "fraude do Thomas" -o guru e paranormal Thomas Green Morton (o que ensinou o "rá" a Baby Consuelo).
Vendedor de Caranguejo - Baterias e teclados programados invadem a tradição da composição de Gordurinha, que Clara Nunes gravou em seu disco de 72 (o mesmo em que cantava "Clarice", hino tropicalista de Caetano). A evocação póstuma ao homem-caranguejo Chico Science torna-se inevitável.
Água Benta - A ciência é tematizada pelo conflito entre os poderes da medicina e as crenças de cura popular. Vencem as mezinhas do feiticeiro de Ossãin, numa primeira tomada de posição de Gil no disco.
Chiquinho Azevedo - Composição inédita desde 76, é a primeira balada a aparecer em "Quanta". O personagem fora preso com Gil à época por porte de maconha e é resgatado como num desagravo (leia ao lado).
Pílula de Alho - É hora de forró, em nova loa à tradição, via alho e seus poderes medicinais. É composição inédita de 82.
Opachorô - Uma abertura épica se dissolve em reggae jamaicano abrasileirado, em oração a Oxalufã e a seu cajado (opachorô).
Graça Divina - Gil louva em tempo de ciranda deuses católicos que são também nomes de cidades brasileiras.
Pela Internet - É hora de futuro. Gil parodia -usando termos ciberespaciais como web site, homepage e e-mail- uma das pedras fundadoras do samba, o hoje ancestral "Pelo Telefone", de Donga.
Guerra Santa - Globalizado, Gil usa samplers para falar de horrores arcaicos situados na curva do tempo entre a Inquisição e o chute na santa do pastor evangélico dos anos 90.
Objeto Sim, Objeto Não - Em 69, às portas do exílio, Caetano lançou "Objeto Não-Identificado" e Gil, "Objeto Semi-Identificado". Esta é a terceira ponta, gravada naquele ano em disco tropicalista de Gal Costa.
A Ciência em Si - A parceria com Arnaldo Antunes abre, lenta e tensa, o segundo CD.
Átimo de Pó - Escrita com Carlos Rennó em levada de bossa nova, é rol semiconcretista de elementos: quark, bactéria, galáxia, eon, íon, magnéton, elétron, glóbulo, yang, yin, spin...
Labirinto - Faixa de Jorge Mautner e Nelson Jacobina, tem cheiro de tributo a Mautner, eterno e maldito profeta/cientista maluco da MPB.
Fogo Líquido - A "fossa nova" é o gênero encontrado por Gil para falar de fogo e paixão.
Pop Wu Wei - Mais filosofia chinesa: wu wei é, segundo Gil, "ação sem intenção", e o pop é meio um samba-canção à antiga.
O Lugar do Nosso Amor - Outra autêntica levada bossa nova prepara as homenagens aos professores Tom Jobim e João Gilberto, que virão mais adiante.
Sala de Som - O próximo homenageado é Milton Nascimento. A faixa celebra o africanismo de Milton em interpretação propositalmente puxada nos vocais preguiçosos e tristonhos à João Gilberto. Foi composta em 77.
Um Abraço no João - Como em "Um Abraço no Bonfá", de João Gilberto, Gil não ousa cantar no sambinha instrumental em veneração a João, de 81.
O Mar e o Lago - Por fim, é a vez de Mário Lago, o ator, mas também o co-autor, com Ataulfo Alves, de "Saudades da Amélia", pilar do samba à velha moda.
La Lune de Gorée - Um dos mais belos poemas do CD (semi-oculto pelo idioma francês), a parceria com Capinan chora a dor universal dos escravos da ilha de Gorée, entreposto de tráfico até fins do século passado.
Nova -"Quanta" aponta o futuro, numa parceria entre Gil e Moreno Veloso, filho de Caetano.

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