São Paulo, terça-feira, 8 de abril de 1997
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França procura donos de obras "órfãs"

MARTA AVANCINI
DE PARIS

O Ministério da Cultura da França está usando uma exposição e a Internet para tentar devolver a seus verdadeiros donos parte do patrimônio artístico que foi roubado ou comprado pelos alemães durante a Segunda Guerra.
O projeto inclui 125 museus de todo o país e consiste na exibição de cerca de 2.000 peças entre pinturas, desenhos, esculturas, cerâmicas e tapeçarias.
"A intenção é esclarecer o destino desse patrimônio e o uso que fizemos dele, já que havia suspeitas de apropriação indevida", disse à Folha Henry Loyrette, diretor do Museu d'Orsay, um dos envolvidos no projeto.
Além do d'Orsay, integram o projeto os museus de Arte Moderna Centro Georges-Pompidou, do Louvre e de Versalhes, entre outros. Nesses museus, as obras estão expostas até o início de maio.
Durante a Segunda Guerra, as obras de arte chegaram à Alemanha de duas maneiras: ou elas eram compradas (muitas vezes no mercado negro) por colecionadores e museus ou eram simplesmente roubadas.
Com o término da guerra, parte desse patrimônio foi devolvido à França e ficou sob a guarda dos museus nacionais.
No total, foram restituídas à França cerca de 61 mil peças, e por volta de 45 mil foram devolvidas a seus verdadeiros proprietários, segundo o Ministério da Cultura.
O restante ficou sob a guarda dos museus franceses e foi catalogado com a identificação MNR, que em português significa recuperada pelos museus franceses.
Algumas obras chegaram a ser exibidas juntamente com as coleções permanentes dos museus.
É o caso do quadro "A Falésia de Etrat, Depois da Tempestade", feito em 1870 pelo pintor francês Gustave Courbet.
"Essa tela, que considero uma das mais importantes da coleção, costuma estar exposta no museu", disse Loyrette.
Embora a coleção inclua quadros produzidos por anônimos e até falsificações -como uma cópia de "A Montanha de Santa Vitória", de Cézanne, na época vendida por US$ 900 mil-, ela é representativa do patrimônio artístico que estava nas mãos dos judeus entre os anos 30 e 40.
"Eles tinham em suas mãos parte significativa da produção do começo do século", disse Loyrette.
Este é o caso, por exemplo, do quadro "Duas Mulheres Nuas" (1929), de Tsugouharu Foujita, adquirido por um colecionador alemão depois que seu proprietário foi enviado a um campo de concentração.
Ainda assim, a exposição permite ao visitante conhecer obras de artistas renomados como Matisse, Picasso, Delacroix, Courbet e Monet, entre outros.
Para facilitar o acesso ao acervo e o reconhecimento das obras, um catálogo completo está à disposição dos interessados na Internet.
Já foram feitas 18 mil consultas, mas, até agora, nenhuma obra foi reivindicada.

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