São Paulo, quarta-feira, 9 de abril de 1997
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Importação de trigo reduz o plantio

ROBERTO DE OLIVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Durou menos de uma semana a esperança do produtor brasileiro de trigo.
Com o anúncio, no final de março, da MP (medida provisória) 1.569, que restringiu as importações financiadas, o produtor chegou a acreditar que plantar trigo voltaria a ser um bom negócio.
Mas a pressão dos argentinos, maiores fornecedores de trigo do Brasil, levou o governo brasileiro a alterar a MP. A consequência será a queda da área plantada no país.
Essa é a conclusão de cooperativas do Sul do Brasil, região responsável por 90% da produção.
Pressionado pelos parceiros do Mercosul, o governo brasileiro anunciou na semana passada modificações temporárias na MP.
Importações de até US$ 40 mil feitas de países do Mercosul foram favorecidas, ganhando provisoriamente mais um mês para o pagamento.
As alterações da MP têm validade de 120 dias.
A MP inicial previa o pagamento à vista para importações de qualquer país, que antes eram financiadas em até 360 dias.
O próprio governo admite que a MP, antes de abrandar as restrições ao Mercosul, era favorável ao agricultor.
"Antes da alteração, o incentivo era maior. Mas o agricultor pode ainda explorar um espaço de parte do trigo importado de países fora do Mercosul, (cerca de 1,5 milhão de t), que era financiada", afirma Edilson Guimarães, coordenador de análise econômica do Ministério da Agricultura.
Somente no Paraná, maior produtor do país, o Departamento de Economia Rural calcula em 25% a redução da área de trigo.
Levantamento do Instituto de Economia Agrícola de São Paulo mostra que a área de trigo será reduzida 81% este ano no Estado.
A Companhia Nacional de Abastecimento informa que o país deve importar 5,3 milhões de t de trigo este ano (mais de US$ 1 bilhão).
"A MP deve aumentar em 15% os preços dos insumos, como fertilizantes e agrotóxicos. Isto impede que o trigo brasileiro concorra com o argentino", diz José Aroldo Galassini, presidente da Coamo (Cooperativa Agropecuária Mourãoense), a maior do país.
Para Flávio Turra, técnico da Organização das Cooperativas do Paraná, a mudança da MP, favorecendo o Mercosul, só reduzirá ainda mais o plantio.
Antônio de Salvo, presidente da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), concorda com Turra. "A Argentina foi favorecida", diz ele.

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