São Paulo, quarta-feira, 9 de abril de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Policiais ganharam gratificação 'faroeste'

SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO

Três dos seis policiais militares flagrados em filmagem espancando favelados de Cidade de Deus (zona oeste do Rio) receberam do governo estadual, em 1996, o aumento salarial conhecido no Rio como gratificação "faroeste".
Oficialmente, a gratificação "faroeste" é dada a PMs que tenham praticado atos considerados de bravura. Na maioria das vezes, o policial premiado participou de ações que resultaram na morte de supostos criminosos.
Os seis PMs estão presos desde anteontem, entre eles o major Álvaro Rodrigues Garcia, chefe da ação na favela, e os cabos Geraldo Antonio Pereira e Sérgio Ricardo Paiva, que foram premiados com a gratificação "faroeste", que aumenta os salários até 150%.
Segundo o comandante do 18º BPM, tenente-coronel Maurício Ghedini, a premiação se deveu "ao conjunto de bons serviços prestados à sociedade e à corporação".
Em reunião ontem à tarde no 18º BPM (Batalhão de Polícia Militar), o governador Marcello Alencar (PSDB) disse ao secretário estadual da Segurança Pública, general da reserva Nilton Cerqueira, e ao comandante da PM, coronel Dorasil Corval, que quer os agressores expulsos do funcionalismo público estadual.
A expulsão do sargento, dos cabos e dos soldados é considerada questão de dias na corporação. Os cinco serão submetidos ao Conselho Disciplinar da PM, que tem até 30 dias para apresentar parecer favorável ou não à expulsão.
A questão do major é diferente. Por ser oficial, ele será submetido ao Conselho de Justificação da PM.
Se o conselho considerar o major merecedor de expulsão, o caso vai à apreciação da Justiça comum, em ação penal no TJ (Tribunal de Justiça) do Rio.
Incursão
Na noite do dia 23 de março, os seis PMs deixaram o 18º BPM para uma incursão de rotina na Cidade de Deus.
Conforme mostrou o Jornal Nacional, da Rede Globo, de anteontem, pelo menos 11 moradores da favela foram espancados pelos PMs durante a operação. As imagens foram filmadas por um morador da localidade.
Após a reunião, o governador decidiu manter no cargo o comandante do 18º BPM, que estava ameaçado de demissão. Segundo Alencar, Ghedini não sabia que as agressões tinham ocorrido.
O major envolvido nos espancamentos ingressou na PM em 82. Sua ficha não apresenta maus antecedentes, afirmou o governador.
O comandante da PM disse que as fichas dos demais também não registra transgressões graves. Todos eram policiais experientes. O mais novo está na PM há oito anos.

Texto Anterior: Cerqueira faz crítica a entidade
Próximo Texto: FHC diz estar preocupado
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.