São Paulo, quarta-feira, 9 de abril de 1997
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Soul brasileiro dos anos 70 se une ao rap

DANIELA ROCHA
DA REPORTAGEM LOCAL

Eles pretendem fazer a ponte entre o período apagado da soul music brasileira dos anos 70 e a música black dos 90 -o rap e o hip hop.
A Unidade Móvel, banda e dançarinos, liderada por Eugênio Lima, 29, fará um show com seu novo repertório no Columbia no dia 12, mostrando que a união do sampler e citações de Prince com "Nem Vem que Não Tem", de Wilson Simonal, dá certo.
O show leva ao palco as músicas que devem integrar o primeiro álbum da banda, previsto para o segundo semestre.
Além do show, os garotos participam ativamente do espetáculo "Opus Profundum", de Dionisio Neto, que terá uma minitemporada no Sesc Pompéia, de 18 a 20 de abril (leia texto abaixo).
Eugênio Lima, diretor musical e coreográfico da Unidade Móvel, é quem assina a dança-embate de "Perpétua", outro espetáculo de Dionisio Neto, que terá apenas duas apresentações, também no Sesc Pompéia, nos dias 16 e 17 (leia texto nesta página).
Por conta disso, não dá para dizer que a Unidade Móvel é só uma banda de black music ou só um grupo de street dance.
Nas suas apresentações, há a interferência direta do cinema e da moda, no discurso, entra política e comportamento. "Nós unimos música, moda, dança e atitude. Construímos a unidade com diversidade", diz Lima.
O que mudou
A Unidade Móvel tem seis anos. O show preparado para o Sesc Pompéia traz a interferência da melodia do rhythm'n'blues, a novidade, comparada aos shows anteriores, no Mundo Mix, mais centrados no ritmo e poesia, no rap.
A Unidade Móvel registra, desta forma, uma mudança conceitual na sua música, buscando agora a estrutura da melodia.
"Ao reeditar a música soul brasileira dos anos 70, estamos recuperando esse hiato histórico. Resgatamos muita coisa boa que está esquecida no baú da música brasileira", diz.
Lima, Max, Will, Pedro, Luiz, Marcelo, Igor e Fabrício, integrantes da banda, foram até o repertório de Wilson Simonal, Jorge Ben, Tim Maia, Cassiano, Robson Jorge, Tarântulas e chegaram na era popular da fusão de funk e jazz com samba do Black in Rio.
Dessas "fontes", eles tiraram referências e uniram ao que faziam. O repertório do show tem "Nem Vem que Não Tem", do Simonal, "Suingue Futebol", onde fazem uma citação dos heróis eleitos pela coletividade -"herói é o Didi, o Vavá, o Pelé", diz Eugênio-, ao mesmo tempo, metaforiza o suingue dos jogadores.
Além de "É o Seguinte, Meu Irmão", música que traz o lema da Unidade Móvel. Diz: "Deus criou o mundo em seis dias e se mandou. O homem, no sétimo, começou a pensar e daí veio a música, a dança, e o blues se fez. Da diversidade surgiu a unidade, o manifesto".
Nas músicas, há sempre o apelo dançante, "mas sem a ditadura da discoteca com levada dos anos 70", esclarece Lima.
"Criamos outra história. Mostramos que o que já foi dito tem a ver com hoje. Fazemos uma ponte histórica entre o que aprendemos a ouvir e o que temos a dizer, no som, na letra, na dança."
O discurso deixa de ser musical e adquire cunho político: "O que estamos fazendo é black music brasileira. Tão brasileira quanto Caetano e Sepultura. Não precisamos tocar samba para fazermos música brasileira".

Show: Unidade Móvel
Quando: dia 12, a partir da 0h
Onde: Sub Club do Columbia (r. Estados Unidos, 1.572, tel. 011/3065-1265) Ingresso: R$ 17 (sem convite), R$ 13 (com convite) e R$ 10 (até 0h, com convite)

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