São Paulo, quarta-feira, 9 de abril de 1997
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Crichton diz escrever em busca de imagens

JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
DE NOVA YORK

Michael Crichton, 54, não esconde que uma de suas principais preocupações ao escrever um livro é a transposição da história para o cinema.
"Quando escrevo, tento transmitir imagens fortes para o leitor, quase cinematográficas", confessou o escritor norte-americano.
Formado em medicina pela Harvard Medicine School, Crichton publicou 14 livros, dez de ficção, entre os quais "Parque dos Dinossauros" e "Assédio Sexual", que, para variar, acabaram virando filmes e sucessos de bilheteria.
Seu último livro, "Armadilha Aérea", foi lançado nos Estados Unidos no ano passado. No Brasil, o lançamento está programado para esta semana.
Em entrevista à Folha, Michael Crichton analisa seu trabalho nos campos literário e cinematográfico, reclama de falta de tempo, mas já fala de projetos futuros.
Crichton, que discutiu técnicas de clonagem de DNAs de dinossauros no filme de Steve Spielberg, pensa num livro sobre a clonagem humana.
"Alguns temas importantes, mas restritos a discussões acadêmicas, ou simplesmente a alguns grupos fechados, têm de ser abertos", afirma.
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Folha - Vários de seus livros são caracterizados por uma narrativa muito técnica, abordando assuntos complexos. Como o senhor faz para torná-los interessantes?
Michael Crichton - Tento tratá-los de uma forma didática. Em geral, coloco uma personagem leiga no assunto, e há alguém para explicar a ela os detalhes mais complicados. São, enfim, assuntos complexos tratados de uma forma didática.
Folha - Quais os assuntos que mais o interessam?
Crichton - Gosto de ciência, medicina, direito...
Procuro colocar no meu trabalho assuntos da atualidade, que interessam a muita gente, apesar de muitos os conhecerem apenas superficialmente.
Folha - O senhor se definiria como um tarado por ficção científica?
Crichton - Não se trata simplesmente de ficção científica. Meus livros, os de ficção, digo, porque já publiquei obras no gênero não-ficção, costumam ser baseados em fatos, se não reais, digamos que possíveis.
Folha - Até "Parque dos Dinossauros"?
Crichton - Não sei se você viu o filme ou leu o livro, mas eu tratava de uma técnica para clonar o DNA de dinossauros.
O que parece impossível hoje pode não ser amanhã.
Há algumas semanas, a clonagem da ovelha Dolly foi o principal assunto no mundo todo. E não era ficção.
Num certo sentido, eu já adiantara a discussão há algum tempo.
A história do meu filme parecia tão impossível quando a da clonagem da Dolly, você não acha?
Folha - A revista "Newsweek" chegou a dizer que o senhor escreve livros para comer com pipoca. O comentário foi reproduzido na orelha de um dos seus livros. Naturalmente, foi visto como um elogio. Mas uma afirmação dessas não deveria ser encarada como uma crítica?
Crichton - Não, claro que não. Procuro dar lazer às pessoas. Não vejo algo errado no meu objetivo.
O comentário da "Newsweek" é pertinente, daí sua reprodução, porque tenho a preocupação, que admito ser grande, de passar imagens visuais fortes.
Quando escrevo, quero transmitir imagens quase cinematográficas, mas eu não deixo o conteúdo de lado, entende?
Acho que trato de assuntos que estão na moda, que interessam às pessoas, que fazem parte do cotidiano do leitor.
Foi o caso de "Assédio Sexual", uma história baseada em fatos reais.
Como o assunto era forte, as pessoas envolvidas, claro, pediram para ficar anônimas. Mas a receptividade ao livro foi ótima.
Quantos casos de assédio sexual, reportados ou não, não aconteceram por aí afora?
E posso dar vários outros exemplos. Quando eu tinha 26 anos, publiquei um livro que nem fez muito sucesso, mas que já mostrava a minha preocupação com assuntos, digamos, delicados.
Eu abordava a ética médica, que, na verdade, está longe de interessar só a médicos.
Todas as pessoas, mesmo enquanto pacientes potenciais, têm alguma ligação com o assunto.
Alguns temas importantes, mas restritos a discussões acadêmicas, ou simplesmente a alguns grupos fechados, têm de ser abertos, porque afetam comunidades bem mais amplas. Aí está um dos méritos do meu trabalho.
Folha - Qual seu próximo projeto, seu próximo livro?
Crichton - Vamos com calma, porque não tenho tempo. Tenho trabalhado muito, escrevendo, produzindo...
Estou realmente com minha agenda lotada. Além de escrever, tenho acompanhado Steven Spielberg nas filmagens das minhas obras, produzo uma série para a TV, não é fácil.
Folha - Mas nem uma idéia sobre o próximo livro?
Crichton - Idéias não faltam, projetos também não, a questão é com qual trabalhar. Mas uma das possibilidades é abordar a clonagem humana.
Além de dar margem a histórias sensacionais, trata-se de uma questão ética que me interessa muito.
Discuti-la em uma obra de ficção será um passo importante.

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