São Paulo, quarta-feira, 9 de abril de 1997
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Jerusalém "deporta" palestinos

PATRICK COCKBURN
DO "THE INDEPENDENT", EM JERUSALÉM

Dentro de dois meses, uma medida deve ter mais efeito sobre o futuro de Jerusalém do que a construção do novo assentamento israelense na cidade. Israel vai iniciar um exame meticuloso do direito de cada morador palestino de continuar na cidade. Aqueles que não tiverem a documentação adequada terão 15 dias para sair.
Naquilo que o B'Tselem, um grupo israelense de defesa dos direitos humanos, chama de "uma política silenciosa de deportações", centenas (talvez milhares) de pessoas já tiveram de sair. Funcionários diplomáticos ocidentais temem que até 120 mil entre os 170 mil palestinos da cidade possam ser obrigados a abandonar Jerusalém.
Até agora, as novas regras só foram postas em prática quando os palestinos precisam renovar sua carteira de identidade, mas o Ministério do Interior diz que entre junho e agosto todas as carteiras de identidade deverão ser renovadas.
Como resultado dessa política, em vigor desde o começo do ano passado, mas intensificada no governo Netanyahu, muitos palestinos deixaram de registrar seus filhos recém-nascidos na cidade.
A essência da nova lei é fazer os palestinos provarem, em algus casos com a apresentação de até 12 documentos, que sempre viveram na cidade.
O Ministério do Interior nega que tenha introduzido uma nova política; diz que está apenas pondo em prática antigas regras. Quanto à acusação de que tenha criado uma política de deportação para os palestinos, Tova Ellinson, porta-voz do ministério, afirma: "Quando residentes permanentes diminuem seus laços com Israel -mantêm o centro de sua vida em outro lugar, por exemplo-, sua escolha causa a expiração de sua permanência como residente".
Na verdade, porém, só recentemente palestinos que vivem em subúrbios de Jerusalém, como Ram ou Abu Dhis, descobriram que seu "centro de vida" saiu da cidade. O relatório do B'Tselem, intitulado "A Deportação Silenciosa: Revogação da Residência de Palestinos de Jerusalém Oriental", diz: "Cerca de 18 meses atrás, o Ministério do Interior começou a revogar o status de residente de pessoas que deixaram os limites do município de Jerusalém". A mudança foi retroativa e introduzida sem aviso, de maneira que só agora os palestinos estão descobrindo se têm o direito de viver na cidade onde nasceram.

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