São Paulo, domingo, 13 de abril de 1997
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'Vivo mudando, ilegal, mas honestamente'

MARCELO OLIVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

"Nunca paguei aluguel na vida. Sempre vivi mudando de um canto para outro. Ilegal, porém honestamente."
O autor da frase é o desempregado Sérgio Bernardino de Oliveira, 21, que está morando com a namorada Alcione Marques da Silva, 19, num porão do casarão de Santos Dumont (região central de São Paulo), com menos de 1,8 m de pé-direito.
Oliveira, que não tem documentos, mudou para o porão depois que brigou com os colegas com quem dividia um quarto.
Antes de ficar sabendo da invasão do casarão de Santos Dumont, Oliveira diz que habitava um casarão nas mesmas condições, no bairro do Bom Retiro.
"Lá era desorganizado, não havia um movimento para regularizar a situação."
Outro motivo que levou Oliveira a se mudar é puramente sentimental. Ele conta que já havia morado no casarão de Santos Dumont antigamente.
"Nasci aqui e minha mãe morreu do coração aqui, quando eu tinha 8 anos. Antes, aqui também era assim, abandonado. Nunca veio ninguém do governo procurar a gente, nem o censo."
Porão
"Sempre cabe mais um" virou o slogan do metroviário Hamilton Silvio de Souza, 36.
Ele divide um quarto de 6 m X 8 m no "casarão da USP" com o sócio José Ronei Silva dos Santos, 26. Além do amigo e de vários eletrodomésticos, como geladeira, forno de microondas, rádio e TV, ele ainda conseguiu lugar para a uma "filha adotiva", a moradora de rua Maria do Rosário da Silva, 45.
Souza conta que Maria foi encontrada por eles na praça da Sé, na porta da catedral. Ela conta que estava na rua há quase um ano, desde que ficou desempregada e perdeu os documentos.
Souza ainda tem um fogão, um freezer, várias panelas e embalagens de alumínio para marmitex. Os objetos estão na cozinha, onde ele e Ronei pretendem dar continuidade à "empresa informal" de fornecimento de alimentos que eles mantinham no cortio casarão de Santos Dumont; debruçado no colchão, seu irmão Paulo Renan Gualberto, 5; João Marcos Machado aguarda a chegada dos móveis, sentado em colchão em seu quarto, no casarão que foi de Santos Dumont; Amauri Santos Senna (foto acima) descansa em sala do casarão. Ao lado, os amigos Ribamar, Conceição e João, que dividem um único quarto

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