São Paulo, domingo, 13 de abril de 1997
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A ilusão dos baixos teores

MICHAEL DAY
DA "NEW SCIENTIST"

Fumantes que mudaram para cigarros de baixo teor de alcatrão para evitar câncer nos pulmões estão enganando a si próprios -com consequências potencialmente fatais. A conclusão é de epidemiologistas que estudaram casos de câncer no pulmão na Suíça entre 1974 e 1994.
Cigarros que contêm relativamente baixos teores de alcatrão são tragados mais intensamente do que cigarros mais fortes porque irritam menos as vias respiratórias. O alcatrão é uma das substâncias presentes no cigarro que influi no sabor.
A equipe estudou 7.423 registros de casos de câncer no pulmão das regiões de Vaud e Neuchâtel.
Os pesquisadores constataram diferentes tipos de câncer, como o carcinoma de células escamosas e os adenocarcinomas. Esse último tipo de tumor ocorre nas vias respiratórias inferiores.
Os resultados do estudo mostraram que, durante todo o período, a incidência do câncer de células escamosas foi de 37%, enquanto os adenocarcinomas responderam por 18% do total de tumores nos pulmões.
Entre 1990 e 1994, período em que as marcas de cigarros de baixo teor tornaram-se muito populares, o câncer de células escamosas foi o responsável pela morte de 30% dos homens estudados.
Já a taxa de adenocarcinoma cresceu 250%, relataram os pesquisadores na última edição do revista "Cancer".
No total, a taxa de cânceres no pulmão aumentou 3,4% durante o período estudado.
Os pesquisadores constataram, entretanto, que na Suíça a troca dos cigarros convencionais por cigarros de baixo teor não ocorre numa velocidade considerada alta.
Em outros países, as taxas de câncer no pulmão declinaram.
Carlos La Vecchia, epidemiologista do Instituto Mario Negri, de Milão (Itália), que chefiou os estudos, diz que os resultados realçaram os graves riscos oferecidos por todos os tipos de cigarros.
"Essa pesquisa mostra que fumar cigarros de baixo teor em vez de cigarros de alto teor reduz o risco de o fumante desenvolver cânceres nas vias respiratórias principais, e mas aumenta o risco de tumor nas periféricas", concorda Richard Peto, da Universidade Oxford (Reino Unido).
As conclusões de La Vecchia e seus colegas coincidem com as notícias de que a British American Tobacco, uma indústria de cigarros britânica, vai propor um acordo extrajudicial às vítimas de câncer no pulmão.
Um porta-voz diz que a companhia considera que as compensações que serão oferecidas são do "interesse dos acionistas".
Advogados que representam pessoas que sofrem de câncer nos pulmões suspeitam que o acordo multibilionário pode ter sido oferecido em troca de imunidade contra quaisquer outras ações legais nos EUA.
Um acordo dessa proporção pode influenciar resultados de processos de indenização em outros países.
O procurador Martyn Day, da empresa Leigh, Day and Company, que representa 40 britânicos vítimas de câncer, diz:"As companhias de cigarros têm sobrevivido porque permaneceram unidas e nunca aceitaram nenhuma acusação. Essa é a primeira grande fissura na defesa delas".

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