São Paulo, domingo, 13 de abril de 1997
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Peres quer 4 condições para coalizão

IGOR GIELOW
DA REPORTAGEM LOCAL

O líder do Partido Trabalhista de Israel, Shimon Peres, colocou ontem quatro condições para aceitar a formação de um governo de unidade nacional no país.
"Primeiro, o governo precisa assumir uma postura favorável à paz. Segundo, cumprir os acordos de paz com a Autoridade Nacional Palestina. Terceiro, voltar às negociações com a Síria. Quarto, propor uma agenda para todo o Oriente Médio."
Peres fez a afirmação ontem de manhã em São Paulo, onde está desde a sexta-feira participando de palestras e eventos.
Também ontem, o primeiro-ministro Binyamin "Bibi" Netanyahu afirmou, pela primeira vez, estar considerando a formação de um governo de unidade -algo que só ocorreu uma vez em Israel (entre 1984 e 1990) após a bipolarização entre o Likud (direitista, de "Bibi") e o Partido Trabalhista (mais à esquerda).
Crise
O Estado judeu vive uma de suas maiores crises desde que assinou os acordos de paz de Oslo com os palestinos em 1993 e reatou relações diplomáticas normais com a Jordânia em 1994.
Há três semanas, o governo linha-dura de "Bibi" determinou a construção de assentamentos judeus no lado palestino de Jerusalém, provocando protestos diários nos territórios árabes ocupados pelos israelenses desde a Guerra dos Seis Dias (1967).
"Isso foi um erro fatal. Nós temos o direito de construir onde quisermos, mas não era o caso de fazer isso lá", disse Peres.
O acordo com a Síria é considerado prioritário para Peres. As conversas começaram em 1991 em Madri, ainda no governo Likud de Yitzhak Shamir. Nos casos palestino e jordaniano, com o aval dos EUA, deu certo.
Mas no sírio, não. "Sem paz com os sírios não há paz no Oriente Médio", afirmou Peres. Israel ocupa as colinas do Golã, território do sul da Síria, também desde 1967.
Crítica
Premiê por duas vezes (1984-86 e 1995-96), o israelense de origem polonesa Peres criticou o governo do Likud pelo que chamou de falta de habilidade no trato com os palestinos.
"Todos nós queremos a paz. Mas temos de saber que é preciso pagar um preço por ela. Ao contrário de um cartão de crédito, que você usa para ter a mercadoria antes de pagar de fato, a paz em Israel precisa de um pagamento para ser obtida", disse.
Leia-se "terra pela paz". "Bibi" foi eleito trocando a "terra" por "segurança". Para o ex-primeiro-ministro de 74 anos, isso está ocasionando os problemas atuais.
Arquiteto do processo de paz agora em frangalhos, o ex-premiê afirmou que apenas a construção de uma coalizão para governar Israel pode trazer paz ao país.
Para Peres, é necessária uma reformulação nos partidos políticos em Israel. "Nosso problema não são os judeus ortodoxos extremistas, são os partidos políticos a eles associados", disse, em clara referência a agremiações que dão maioria parlamentar a "Bibi".
Peres perdeu a primeira eleição direta para primeiro-ministro em Israel, ocorrida em maio do ano passado, por apenas 40 mil votos. A vitória de Netanyahu, em sua avaliação, foi "imprevisível".
Nova eleição
Perguntado sobre a possibilidade de concorrer novamente ao posto, assumiu uma postura enigmática: "Eleições são como perfumes. Bons de cheirar, mas perigosos de tomar. Nunca se sabe o que pode acontecer".
Sem sucessores de peso para liderar a oposição, à exceção do deputado trabalhista Yossi Beilin, Peres deve continuar na chefia do Partido Trabalhista neste ano.
Contra ele, pesa o fato de nunca ter ganho eleição: foi premiê pela primeira vez como parte do acordo para formar o governo de coalizão e pela segunda após o assassinato de Yitzhak Rabin.
Peres fica no Brasil até terça-feira, estando a convite da Confederação Brasileira Macabi.

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