São Paulo, domingo, 13 de abril de 1997
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"Forrest Gump" de Selton Mello vitaliza merchandising psiquiátrico

ELAINE GUERINI
DA REPORTAGEM LOCAL

O papel do protagonista limítrofe de "Forrest Gump - O Contador de Histórias" rendeu a Tom Hanks o Oscar de melhor ator em 95. A inocência e a franqueza que caracterizam pessoas com atraso no desenvolvimento mental destacam agora a composição de Selton Mello na pele de Emanoel Faruk, o adolescente que ainda não saiu da fase dos porquês em "A Indomada".
Ao retratar os desajustes de um limítrofe (no limite entre o indivíduo normal e o retardado), a trama de Aguinaldo Silva e Ricardo Linhares reforça a atual fase de merchandising social na teledramaturgia da Rede Globo -no caso, merchandising psiquiátrico.
"Procuro fazer o papel com sensibilidade. Não quero cair na caricatura", diz Selton, 24, que procurou um psiquiatra especialista em atraso no desenvolvimento para ajudá-lo a compor o personagem. "Conheci pessoas como o Emanoel e assisti aos filmes que abordam o problema. Minha atuação é resultado desse liquidificador."
Christian Gauderer, 51, o psiquiatra consultado pelo ator, espera que a novela contribua para o reconhecimento do problema. Segundo o especialista, o comprometimento intelectual moderado atinge entre 5% e 7% da população brasileira.
"As famílias preferem ignorar o assunto e costumam definir o filho como o garoto que não presta atenção. E assim ele vai empurrando com a barriga e o especialista fica de mão amarradas", afirma Gauderer, autor do livro "Autismo e Outros Atrasos no Desenvolvimento".
"A novela é realista ao mostrar que o pai de Emanoel nega o problema", diz o psiquiatra, referindo-se ao personagem Teobaldo Faruk, interpretado por José Mayer. "O que as pessoas não sabem é que o indivíduo apresenta melhora após o diagnóstico e tratamento adequado."
Na trama, o problema de Emanoel está relacionado com a morte de sua mãe -pelo menos é o que Teobaldo e Veneranda (Amélia Bittencourt) deixam transparecer em suas conversas.
Segundo Gauderer, malformação congênita, infecção intra-uterina, parto malconduzido e pré-parto inadequado são as principais causas do atraso no desenvolvimento mental.
Angela Correa, 48, mãe de um jovem de 20 anos que apresenta o problema, diz que a performance de Selton Mello condiz com o comportamento de um limítrofe. "Eles são assim mesmo. Questionam tudo sem censura, deixando algumas pessoas desconcertadas." Ela espera que a abordagem na novela ajude a desmitificar o tema. "Ainda existe muito preconceito."
Outras tramas da Globo já apresentaram personagens com comprometimento intelectual. "As novelas da Ivani Ribeiro foram as que mais tocaram no assunto", comenta Mauro Alencar, 34, consultor e pesquisador de novelas da emissora.
A escritora criou o Tonho da Lua de "Mulheres de Areia" (74 e 93) e o Rafael de "Final Feliz" (83). "O público se sensibiliza com a história de um adulto com idade mental de criança."

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