São Paulo, segunda-feira, 14 de abril de 1997
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Estudo desvincula salários de bom ensino

FERNANDO ROSSETTI
DE NOVA YORK

O bom ensino de matemática ou ciências não depende, necessariamente, do salário dos professores, do número de alunos por sala de aula, das horas dedicadas ao estudo de cada matéria e nem mesmo da cultura do país.
Essa é, por enquanto, a principal conclusão que se pode tirar da maior pesquisa comparativa de sistemas de ensino já feita no mundo, o Terceiro Estudo Internacional de Matemática e Ciências (ou Timss, na sigla em inglês).
Os quatro países mais ricos da Ásia (Cingapura, Coréia, Japão e Hong Kong) ficaram com os quatro primeiros lugares no ranking de matemática e com três no de ciências (veja quadro ao lado).
A exceção, a República Tcheca, que tirou segundo lugar em ciências, é que coloca em questão o que é que faz um bom ensino. Também tiveram bons resultados outros países do ex-bloco soviético, como Eslováquia, Eslovênia e Bulgária.
A República Tcheca gasta por aluno (e portanto paga aos professores) um terço do que os Estados Unidos ou a Coréia gastam. Mas os EUA ficaram com resultados apenas medianos entre os 41 países avaliados. A Coréia, por sua vez, está entre os primeiros.
Perplexidade
A Bélgica (5º lugar em matemática), a Holanda (6º em ciências) e os vários países bem classificados do Leste Europeu, todos com sistemas de ensino e culturas muito diferentes, também aumentam a perplexidade dos especialistas diante dos resultados do Timss.
"A idéia de que haveria alguma medida simples que se poderia tomar para melhorar a educação simplesmente não se comprova. Não é só com os salários que se vai resolver o problema", disse à Folha o diretor internacional do Timss, Albert Beaton, do Boston College, em Massachusetts, EUA.
"Mas há uma coisa que é verdade: a situação socioeconômica dos pais interfere no desempenho dos filhos. Quanto mais educados são os pais, melhor os resultados dos estudantes", afirma.
Isso explica, por exemplo, por que países como a Colômbia ou a África do Sul ficaram em último. Provavelmente, o mesmo aconteceria com o Brasil, se o país tivesse participado. No caso brasileiro, dependendo da região, o gasto por aluno é entre 10 e 20 vezes menor do que nos EUA ou Coréia.
Educadores
Embora possa parecer negativo para os professores o fato de os salários não terem uma correlação imediata com o desempenho dos alunos, os resultados gerais do Timss podem ser vistos com otimismo pelos educadores.
O que se comprova com eles é que a melhoria do ensino é uma questão complexa, que depende do conhecimento dos especialistas em educação para melhorar currículos e as metodologias de educação em prática hoje.
A Inglaterra, que está conduzindo uma profunda análise dos resultados, está reavaliando, por exemplo, a prática muito habitual no país de dividir os alunos em pequenos grupos durante as atividades de sala de aula.
Em países asiáticos, onde há turmas que chegam a ter o dobro de alunos das classes européias, essa subdivisão dos estudantes para atividades não ocorre.
A alta participação de países no Timss também revela a crescente preocupação mundial com a educação. O tema foi capa da edição do último dia 31 da revista britânica "The Economist", com o título sugestivo de "Educação e a Riqueza das Nações".

Informações na Internet http://wwwcsteep.bc.edu/timss

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