São Paulo, quinta-feira, 17 de abril de 1997
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Cinismo atrai, afirma Bayon

MARTA AVANCINI
DE PARIS

O cinismo é, para Bayon, a causa da retomada da obra de Serge Gainsbourg nos anos 90.
Na opinião dele, Gainsbourg era um cínico no sentido filosófico do termo e, nessa medida, teria pautado sua existência por uma atitude de oposição aos valores culturais vigentes.
Uma oposição que se traduzia em letras, filmes e em um comportamento teatralizado -principais fatores de atração para a obra de Gainsbourg na atualidade.
Bayon conviveu com Gainsbourg durante os dez últimos anos da vida do compositor.
Essa convivência resultou no livro "Serge Gainsbourg Mort ou Vices" (Serge Gainsbourg Morte ou Vícios), com duas entrevistas.
Na primeira, realizada em 81, Gainsbourg faz um relato imaginário de sua morte. Na segunda, de 84, ele revê sua vida sexual.
O livro foi lançado após a morte de Gainsbourg e vendeu cerca de 800 mil exemplares na França.
Leia, abaixo, trechos da entrevista que Bayon concedeu à Folha na sede do jornal "Libération", em Paris.
(MA)
*
Folha - A que você atribui a redescoberta de Gainsbourg?
Bayon - Na verdade, a retomada é algo que vem acontecendo desde a época em que ele era vivo. Mas há um processo mais amplo em andamento, que não diz respeito apenas a ele.
Folha - Como assim?
Bayon - O Blur (grupo de rock inglês) gravou um dueto com Françoise Hardy, que pertence ao mesmo registro estético que Gainsbourg.
Além disso, a moda do "easy listening" também favorece sua redescoberta. Em quase todas as coletâneas que estão sendo lançadas há algo dele. Isso remete a um gosto de época, das músicas pomposas das trilhas sonoras dos filmes de James Bond, por exemplo. Mas, talvez, o mais forte, seja a atitude de Gainsbourg.
Folha - Você se refere ao deboche, à teatralidade?
Bayon - Sim, mas mais do que isso. Ele era um cínico no sentido filosófico do termo, de oposição radical aos valores estabelecidos. Acho que é isso que atrai grupos como o Sonic Youth, que é muito ligado nesse tipo de atitude.

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