São Paulo, quinta-feira, 17 de abril de 1997
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Buemba! Americanos duplicam carneiro!

DAVID DREW ZINGG
EM SAMPA

Retornar a Sampa depois de dar meia volta ao mundo é experiência desnorteadora.
Seu relógio interno fica atrasado em mais de 14 horas. Seu intestino grosso acorda quando o resto de você está indo dormir. Você se sente como um membro da seita Heaven's Gate aterrissando EM CIMA daquele cometa.
Para me atualizar com tudo que aconteceu no mundo real enquanto estive fora, dei partida no meu Big Mac e entrei nos sites das agências de notícias. Dei de cara com uma notícia espantosa no campo dos avanços humanos:
Mexicanos Copiam Carneiro
Em Guadalajara, México, a comunidade científica mundial reagiu com espanto ao anúncio, feito na segunda, de que cientistas da Universidade de Guadalajara conseguiram copiar a foto de um carneiro.
"É uma descoberta extremamente instigante", disse o líder da equipe de pesquisadores, o professor Manuel Cortines. "Criamos uma cópia exata de uma foto de um carneiro, idêntica à foto original sob todos os aspectos, exceto a cor -a nossa não é colorida."
A equipe da Universidade de Guadalajara produziu a cópia na última sexta, colocando uma imagem fotográfica do carneiro sobre um aparelho especial que criou a cópia, distribuindo incontáveis partículas de tinta seca sobre um papel.
"Basta apertar um botão e poderemos ter muitos, muitos carneiros", disse Cortines.
Para a dedicada equipe de cientistas de Guadalajara, o grande avanço conquistado na última sexta-feira representou o ponto culminante de anos de experiências feitas com a reprodução de imagens.
Em 1991 o grupo quase conseguiu copiar um carneiro, aplicando tinta a seu corpo e depois pressionando o animal contra uma folha de papel gigante. Mas a experiência revolucionária fracassou porque os dedicados pesquisadores não conseguiram manter o animal imóvel por tempo suficiente para gerar uma cópia de boa qualidade.
"O carneiro se mexia, dava coices e balia, derrubando nossos copos de tequila e sujando o papel antes de conseguirmos criar uma imagem limpa", disse Cortines, acrescentando que carneiros e ovelhas, quando mantidos presos, são capazes de exercer grande força.
Os maiores pensadores mexicanos estão estudando as utilidades potenciais dessa nova e espantosa descoberta.
"A cópia de imagens, se bem utilizada e controlada, pode ser extremamente útil", comentou Felipe Padilla, professor da Universidade de Juarez. "Se você quisesse dar uma festa para 50 pessoas, por exemplo, poderia escrever só um convite e depois fazer quantas cópias você quisesse!"
Padilla elogiou as vantagens potenciais que a reprodução de imagens poderá representar para a indústria mexicana.
"Será possível copiar placas dizendo: 'Tire sua foto ao lado de um burro pintado de zebra -por apenas 30 pesos' ", disse ele. Prosseguiu, em tom otimista: "Teoricamente, não existe limite ao número de lojas de fotografia que poderiam fazer bom uso da placa de burro pintado como zebra".
Enquanto muitas pessoas vêem com otimismo o potencial positivo da nova tecnologia, outras temem que a reprodução em cópias possa ser mal utilizada, provocando danos.
Será possível, algum dia, copiar um ser humano? Essa pergunta suscita graves preocupações entre os principais estudiosos mexicanos da bioética.
"E se alguém copiasse Adolf Hitler? Há tantas fotos dele em livros e revistas... Se tais imagens caíssem em mãos erradas, tremo apenas de pensar no que poderia acontecer", disse Emilio Vargas, diretor do Instituto por los Pensamientos, da Cidade do México.
Os cientistas de Guadalajara desprezam esses temores. "Há muitos problemas que precisarão ser resolvidos antes que possamos cogitar a possibilidade de copiar um ser humano", disse Cortines.
"Ontem mesmo, uma tentativa de copiar um segundo carneiro fracassou porque o papel encravou na máquina. Além disso, ainda não criamos um cartucho para substituir o toner. Quando nosso suprimento de toner se esgotar, é possível que nosso trabalho seja interrompido por anos", disse ele.
O governo mexicano anunciou que vai apoiar o projeto radical e já prometeu doar R$ 47,50 para financiar o projeto de cópia de imagens. O dinheiro será usado para pagar os salários dos pesquisadores e reabastecer a bandeja de papel da nova máquina.
Buemba! - 2
Em Brasília, numa iniciativa ousada destinada a interromper o avanço da violência em áreas carentes (leia-se favelas) pelo Brasil afora, o executivo-chefe da Nação lançou a campanha de adesivos "Está na Hora de Engrossar com a Violência".
"Precisamos tomar medidas contundentes para conter a violência" disse FHC, ao mostrar os novos adesivos de 8x16 cm diante de uma platéia de jornalistas e policiais.
"Esses adesivos vão fazer qualquer pessoa violenta, não importa de onde venha, se (***) de medo", disse o ousado líder nacional.
Segundo o presidente, os novos adesivos deverão reduzir a violência em até 75% quando expostos em lugares altamente visíveis, ao nível dos olhos, em áreas de alta incidência de violência (leia-se favelas).
"Quero transmitir uma mensagem contundente àqueles que se propuserem a ignorar esses adesivos" disse FHC, com a expressão sombria, olhando diretamente para a câmera da TV Globo. "Este adesivo é extremamente adesivo, e sua mensagem está impressa em letras grandes, em duas cores. Esta campanha não é uma simples manifestação de preocupação. Representa um detector real de violência, em qualquer lugar onde esta possa se manifestar."
Os habitantes de áreas de alto risco (leia-se favelas) vão receber um kit de defesa pessoal especial, financiado pelos fundos normalmente usados por parlamentares nas viagens educativas que fazem a centros de aprendizado no exterior, tais como Aspen e Paris.
O kit é composto por dez adesivos de emergência que podem ser aplicados ao muro ou poste mais próximo, no caso de seu portador ser alvo de uma agressão.
Respondendo às críticas de que o adesivo não seria visível à noite, horário de maior incidência de atos de violência, FHC disse que está redigindo uma medida especial para destinar "alguns bilhões de reais para o desenvolvimento de um adesivo especial que brilhe no escuro e seja claramente visível em áreas perigosas e mal iluminadas (leia-se favelas)".
O executivo-chefe da Nação declarou que o Ministério da Tecnologia garantiu que o adesivo será 100% visível depois de ser exposto a uma luz forte por apenas 30 minutos. Acrescentou que o programa ajudará todos os brasileiros a escapar do mal da violência.
"Imagine só -todo cidadão brasileiro poderá ganhar um adesivo gratuito. Para isso, bastará obter um certificado de cidadania assinado pela Polícia Federal, depois entrar no meu gabinete e pegar um adesivo da pilha que ficará sobre minha escrivaninha."

Tradução de Clara Allain

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