São Paulo, sexta-feira, 18 de abril de 1997
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Testemunhas vão receber proteção

MARCELO GODOY
DA REPORTAGEM LOCAL

O Ministério Público requisitou ontem proteção policial para as testemunhas da tortura e assassinato cometidos por PMs na favela Naval em Diadema (Grande São Paulo). Cinco das 15 irão depor hoje, às 13h, no processo da 3ª Vara Criminal da cidade.
O motivo do pedido foi uma entrevista dada pelo advogado de cinco dos dez réus à rádio CBN. Evandro Fabiani Capano, 28, disse na entrevista que uma das principais testemunhas, Jefferson Sanchez Caput, 29, havia sido assassinada anteontem por traficantes.
O advogado foi desmentido pela própria testemunha. "Tive a impressão que a idéia era intimidar não só a mim como às outras testemunhas", disse Caput.
O advogado afirmou que obteve essa informação com um jornalista. "A informação era 'furada'. Minha fonte nunca havia errado, por isso, confiei nela. De maneira alguma quis intimidá-lo (Caput)", disse o advogado.
Até o fim da tarde de ontem, o promotor José Carlos Guillem Blat, responsável pela acusação dos PMs, estava tentando organizar um esquema de proteção às testemunhas do caso.
Com medo, algumas das testemunhas procuraram o Ministério Público após a divulgação da informação sobre o "assassinato de Caput". Os nomes dessas pessoas não foram revelados.
Coação
Durante a tarde, o promotor solicitou a fita da entrevista do advogado à rádio a fim de analisá-la. O objetivo do Ministério Público é saber se a conduta do advogado configurou uma forma de coação à testemunha durante o processo ou uma falsa comunicação de crime.
"Eu não sou o responsável por esses policiais estarem presos. Quem entregou esses policiais foi a fita. Tenho receio e um pouco de medo, pois, depois de tudo isso passar, eu ficarei só", disse Caput.
Amanhã, Caput irá depor às 13h. Já deverá estar acompanhado por uma escolta. Assistente de pessoal, ele dirigia o Gol que foi parado pelos PMs no dia 7 de março na favela Naval. Caput estava acompanhado pelos amigos Antônio Carlos Dias e Mário José Josino.
Os três foram obrigados a descer do carro. Caput foi posto em cima do capô do Gol, onde foi espancado com golpes de cassetete nos pés, nas costas e com tapas.
Os PMs mandaram os três embora e, quando saíam do local, o soldado Otávio Lourenço Gambra fez dois disparos em direção ao carro, matando Josino. Gambra negou ter atirado no carro.

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