São Paulo, sexta-feira, 18 de abril de 1997
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Rio investiga morte de 80 bebês em 9 meses

FERNANDA DA ESCÓSSIA
ENVIADA ESPECIAL A CABO FRIO (RJ)

A Secretaria da Saúde do Estado do Rio abriu auditoria ontem para investigar a causa das mortes de pelo menos 80 recém-nascidos internados nos últimos nove meses no Hospital Santa Izabel, em Cabo Frio (a 170 km do Rio).
A causa mais provável das mortes é infecção hospitalar. A denúncia foi feita pelos pais das crianças à Secretaria da Saúde e ao Ministério Público. Eles obtiveram o número de mortes em pesquisa no cartório de registros civis.
O Hospital Santa Izabel é administrado por uma irmandade católica. As crianças estavam internadas na UTI (Unidade de Tratamento Intensivo) neonatal, arrendada ao pediatra Luiz Cavalcante Lopes há um ano e meio.
Neste ano morreram 17 bebês. Um grupo de pais entregou os atestados de óbito de 48 crianças ao Ministério Público. Destas, 35 teriam morrido por causa de infecção hospitalar generalizada.
Exames solicitados pelos pais revelam que pelo menos quatro bebês foram infectados pela bactéria Klebsiella pneumoneae, uma das responsáveis pelas mortes de 33 bebês em Roraima, em 96.
Segundo o promotor Fador Sampaio, os pais se queixaram de falta de higiene do hospital e dos médicos. Sampaio determinou a abertura de inquérito.
Nicolas Granzella Eboli foi um dos bebês infectados pela bactéria. Ele morreu no dia 16 de setembro de 96, aos cinco dias de vida.
Segundo o engenheiro César Eboli, pai de Nicolas, seu filho nasceu prematuro, mas saudável. O laudo do hospital indicou que o bebê morreu por causa de infecção intra-uterina. O engenheiro e sua mulher, Marcella Granzella, obtiveram laudo fornecido por outro médico atestando que o garoto não tinha infecção. Outro exame comprovou a contaminação pela Klebsiella pneumoneae.
O diretor da UTI, Luiz Cavalcante Lopes, não forneceu o número exato de mortes e disse que, desde a abertura da UTI, houve mais de 500 internações. "O número de mortes é normal se comparado ao volume de internações."
Em fevereiro, Lopes contratou uma empresa particular de consultoria médica para inspecionar a UTI. O laudo foi entregue ontem ao técnico da Vigilância Sanitária, Sílvio Carlos Pourchet. Pourchet disse que a UTI tinha boas condições de higiene. Seis bebês permanecem internados. Segundo Pourchet, técnicos da Secretaria da Saúde visitarão hoje a UTI e colherão material para análise laboratorial.
Um grupo de pais também denunciou as mortes à Secretaria da Saúde em dezembro de 96. Duas inspeções em 96 não verificaram problemas. O diretor do hospital, Marco Couto, disse que a clínica não tem responsabilidade técnica nem jurídica sobre as mortes.

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