São Paulo, sexta-feira, 18 de abril de 1997
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De novo Al Pacino, de novo mafia

DELPHINE GUERITEE LAURA GROSS
DA "INTERNATIONAL FEATURE AGENCY"

Al Pacino, o astro de "Donnie Brasco - Minha Vida Clandestina na Máfia" (que estréia hoje em São Paulo), de Mike Newell, é uma espécie de mistério. Nunca parece completar suas frases. Às vezes resmunga e parece ficar pouco à vontade quando fala sobre si mesmo. Um paradoxo, levando em conta tudo que já o vimos fazer nestes últimos 25 anos.
Parece que é quando Al Pacino atua no cenário da máfia, com que já está familiarizado, como faz em "Donnie Brasco", que ele ascende ao ápice da profissão de ator.
E, desta vez, está trabalhando com Johnny Depp, talvez mais complexo e excêntrico do que o próprio Pacino. A química que rola entre os dois é surpreendente.
"Eu não conhecia Johnny antes do filme" diz Pacino. "Ele é uma pessoa muito interessante. Não houve nem um dia em que ele não tenha trazido algo de novo. Essa é sua natureza. Além disso, ele me fazia rir o tempo todo."
Pacino pertence à primeira geração dos atores da escola de Lee Strasberg -"atores reais", que preferem "viver" o papel, em vez de apenas "representá-lo". Mas, no caso de "Donnie Brasco", as filmagens duraram relativamente pouco tempo para os padrões de Hollywood (seis semanas), e foi obrigado a abordar seu papel desde uma perspectiva diferente.
Pacino reconhece que seu repertório de ator inclui uma maioria de personagens que representam um segmento da comunidade ítalo-americana, que Hollywood tende a retratar como pessoas violentas.
É uma realidade que leva o ator a querer evitar o assunto: "Será que realmente quero admitir isso? (Ri) Não. Mas suponho que seja verdade, em parte. É um dos tentáculos de nossa cultura. Não sei qual seria a solução. Acho que sou chamado para fazer tantos papéis desse tipo porque pareço ítalo-americano. Mas, em última análise, tenho que gostar do roteiro e do papel, senão não faço o filme."
Pacino chegou a um ponto em sua carreira em que não precisa trabalhar o tempo todo. O fato de ganhar o Oscar por "Perfume de Mulher" lhe possibilitou escolher os papéis de que gosta e só trabalhar em projetos que o inspirem.
"O Oscar é uma coisa boa", diz. "Todo mundo assiste à cerimônia de entrega. As pessoas gostam disso, é parte do entretenimento."
"Para mim, ganhar um Oscar foi uma grande experiência. Foi maravilhoso. Eu não imaginava que me sentiria assim depois de ganhar o Oscar. Não que eu não o merecesse. Senti que tinha chegado a minha vez. Recebi o prêmio, e é difícil descrever o que senti."
Ele continua: "Você volta para casa, volta para sua vida, e muitas pessoas estão cientes de que você ganhou o Oscar. Elas chegam e dão parabéns, e isso, de certo modo, mantém a coisa acesa. Isso continuou por algumas semanas. Eu nunca antes havia sentido algo igual. Foi como vencer um prêmio nas Olimpíadas. Para mim, foi realmente mais parecido com um evento esportivo. Mas, como nunca ganhei nada num evento esportivo, foi realmente espantoso".
Agora que Pacino ganhou seu Oscar e que sua popularidade no cinema está no auge, será que cogitaria de fazer televisão? "A televisão é uma coisa à qual eu não tenho acesso ou que meu agente não foi atrás", diz. "Mas se aparecesse o trabalho certo, eu faria, sim. Acho que fazer televisão não prejudicaria meu status em nada."
"Uma vez me ofereceram um trabalho na televisão, era uma coisa chamada 'The Bunker'. Anthony Hopkins acabou fazendo. Era um grande roteiro. Assim, tenho certeza de que há roteiros fantásticos para televisão. Mas nunca recebo nenhum deles. Não sei por quê. Vou ter que falar com meu agente sobre isso."

Tradução de Clara Allain

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