São Paulo, domingo, 20 de abril de 1997
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Filmagem amadora não é 'mina de ouro'

LUÍS PEREZ
DA REPORTAGEM LOCAL

As cenas da violência da PM em Diadema, que chocaram o Brasil e o mundo, redespertaram em alguns a vontade de sair com uma câmera na mão.
Toda a especulação feita sobre quanto teria ganho o cinegrafista -chegou a se falar em R$ 40 mil- aguçou ainda mais os ânimos.
Quem ainda tinha dúvidas achou que valeria a pena: dinheiro fácil e muita adrenalina. Não é bem assim. Os "profissionais" desse amadorismo esfriam os ânimos.
"O quê? R$ 40 mil? No dia em que eu ganhar R$ 10 mil com alguma coisa, paro de filmar", diz Rivaldo Ribeiro, 37, cinegrafista amador que entrou nessa atividade há dois anos. Antes tirava fotos de aniversários e casamentos.
"Já peguei de tudo. Assalto, perseguição, até a fuga de leão." Mas, segundo ele, as emissoras pagam, em média, R$ 60 por uma imagem.
Falar em ganho mensal é ilusório. "A gente passa dias sem fazer absolutamente nada." Conclusão: "Não dá para viver dessa profissão". O investimento mínimo para conseguir a câmera é de R$ 800. No mais, ou se tem muitos contatos ou é preciso contar com a sorte.
"Acho importante essa atividade porque, como no caso de Diadema, amplia a visão da sociedade", afirma Boris Casoy, editor-chefe do "TJ Brasil", do SBT.
Para ele, as câmeras da TV são "insuficientes" para mostrar as dimensões da sociedade. O cinegrafista amador tem uma vantagem: "Flagrar o lado menos posado". Mas Casoy observa: "Mas não vejo isso como profissão".
É raro o "TJ Brasil" precisar desse tipo de material, mesmo porque na maioria não existe qualidade.
"Falta ainda aos cinegrafistas mais treino jornalístico. Às vezes, algo que acontece na rua dele não é importante, a não ser para quem mora na rua dele." Casoy não aconselha a atividade nem como bico. "É o bico do bico."
As emissoras de TV mantêm um cadastro dos cinegrafistas -quase todos sem telefone, localizáveis apenas via pager. Estão sempre na rua, à cata de notícias.

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