São Paulo, domingo, 20 de abril de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Empresas dos EUA têm código de conduta

The Independent
de Londres

DAVID USBORNE
DO "THE INDEPENDENT", EM NOVA YORK

Se Tiger Woods, o jovem e elogiado vencedor do torneio Masters de golfe no último fim de semana, assistiu ao noticiário político na segunda-feira, provavelmente se sentiu aliviado. A Nike, empresa que o patrocina, assumiu um compromisso público de não explorar os operários que emprega.
Numa batalha chave na guerra para melhorar as condições de trabalho em suas fábricas no Terceiro Mundo, a Nike e outras grandes empresas norte-americanas de tênis e roupas, como a LL Bean e a Liz Claiborne, subscreveram um código de conduta para práticas de empregadores, válido em todo o mundo.
Críticas a Woods
O inusitado acordo, que recebeu o visto do presidente Bill Clinton, constitui uma tentativa por parte das empresas de inverter a publicidade desastrosa gerada nos últimos meses por relatos recebidos sobre o tratamento dado a operários em suas fábricas em várias partes do mundo, que varia do injusto ao desumano. A mais duramente atingida foi a Nike.
As revelações vindas à tona sobre a Nike -que teria punido 56 funcionários de uma fábrica sua no Vietnã, obrigando-os a correr sob o sol forte até que vários caíram desmaiados- também prejudicaram alguns dos atletas que ela patrocina.
Por ser um símbolo de integração racial -com ascendência mista afro-americana e tailandesa-, Woods não escapou das críticas dirigidas à sua patrocinadora.
Enquanto o resto dos EUA o adorava, o colunista do "The New York Post" Phil Mushnick o criticava. Acusando-o de perder a oportunidade de expor a Nike, Mushnick escreveu: "Na condição de filho de mãe tailandesa, Woods poderia ter rejeitado a Nike pelo mau tratamento que ela dispensa às mulheres asiáticas na Indonésia e no Vietnã".
O código, que foi negociado pelas empresas com organizações de defesa dos direitos humanos, sindicalistas internacionais e a própria administração Clinton, num processo que levou meses, prevê a presença de monitores externos que deverão vistoriar fábricas e verificar possíveis violações.
"Sem problemas"
Além disso, as empresas se comprometem a impor aos operários uma carga de trabalho de no máximo 60 horas semanais -com a possibilidade de horas extras "voluntárias"- e a respeitar os salários mínimos dos países onde estão suas fábricas. E não poderão empregar menores de 14 anos.
Em troca, as companhias que obedecerem ao código poderão fixar rótulos dizendo "No Sweat" ("Sem Problemas") a seus produtos, para assegurar ao consumidor que ele pode gastar seu dinheiro sem correr o risco de estar indiretamente apoiando o uso de trabalho escravo.
Mas o código certamente vai demorar a comprovar sua utilidade. Alguns grupos dizem que é muito brando demais e que vai acabar sancionando práticas injustas, como as horas extras excessivas de trabalhadores no exterior.
Também pairam dúvidas sobre a validade do sistema de monitoramento. Pelos termos do acordo, os inspetores serão fornecidos por firmas de contabilidade escolhidas pelas empresas de roupas, não por organizações de defesa dos direitos humanos. E não ficou claro se as possíveis violações detectadas serão ou não levadas a público.

Tradução de Clara Allain

Texto Anterior: Empresa quer fazer 3 'enterros espaciais' por ano
Próximo Texto: Bolsa escolar ajuda executivos
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.