São Paulo, segunda-feira, 21 de abril de 1997
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CPI dá 'prêmio' para recuperar dinheiro

FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A CPI dos Precatórios vai contratar advogados para tentar encontrar o dinheiro do lucro ilícito da venda de títulos públicos. O plano é oferecer uma recompensa pelo dinheiro recuperado.
Os senadores imaginam que a maior parte do lucro esteja no exterior. Não há estimativa exata de valores. A soma total deve superar R$ 100 milhões.
Os advogados contratados terão de trabalhar como detetives. O acordo a ser assinado será de risco: a CPI pagará um percentual do dinheiro que for encontrado e eventualmente repatriado.
Se nada encontrarem, os advogados receberão apenas algum valor previamente estipulado para cobrir as despesas operacionais.
Esse tipo de contrato de risco foi inspirado no mesmo estilo adotado pelas empresas que são acusadas de participar da máfia dos precatórios.
Os contratos de alguns bancos e corretoras continham uma cláusula estipulando uma certa "taxa de sucesso". A instituição só recebia essa taxa se a operação de venda de títulos fosse satisfatória.
Prospecção
O trabalho de prospecção da empresa que será contratada para ajudar nas investigações já começou. O senador Esperidião Amin (PPB-SC) ficou com a responsabilidade de fazer um contato com a Kroll Associates.
A Kroll é uma empresa dos Estados Unidos que tem representações em diversos países, inclusive no Brasil. É especializada em espionagem e foi contratada pela CPI do Collorgate, em 92, que culminou com o impeachment do então presidente Fernando Collor.
O senador Vilson Kleinubing (PFL-SC) passou ontem por Nova York (EUA), para fazer um contato com advogados de uma outra empresa.
Kleinubing fez apenas uma escala em Nova York. Estava a caminho do Canadá, onde participa da comitiva do presidente Fernando Henrique Cardoso.
Para fazer o contato com a firma de Nova York, o senador Kleinubing marcou um encontro com o representante desse escritório de advocacia no próprio aeroporto -onde permaneceria por quatro horas, a espera de um vôo de conexão para o Canadá.
No Brasil, o Banco Central também está procurando algum escritório especializado que possa assinar um contrato de risco com a CPI dos Precatórios.
A decisão sobre qual firma será contratada deve ser tomada nos próximos dias. A CPI considera, inclusive, a contratação de mais de uma empresa. Uma das maiores dificuldades que a CPI tem encontrado é convencer doleiros a confessar algum envolvimento com o esquema dos precatórios.
Doleiros
A CPI imagina que grande parte do dinheiro saiu do Brasil por intermédio de doleiros. Como vivem de um negócio ilegal, no qual o sigilo é muito valioso, os doleiros apenas conversam sobre generalidades com os senadores.
A contratação de empresas de advocacia para rastrear o dinheiro desviado faz parte de uma estratégia de aproximação da CPI com os doleiros. A idéia é ganhar a confiança desse mercado.
Os senadores acham que advogados poderiam oferecer mais reserva às investigações. Na CPI, documentos ou depoimentos sigilosos acabam vazando em dias -ou horas- para a imprensa.
Já com uma empresa de advocacia investigando, o sigilo seria quase total -imaginam os senadores. E, com isso, talvez algum doleiro se habilitasse a falar.

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