São Paulo, segunda-feira, 21 de abril de 1997
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Crimes de imprensa

LUÍS NASSIF

A coluna recebe a seguinte correspondência do doutor Ricardo Pasquini, professor-titular do Departamento de Clínica Médica da Universidade Federal do Paraná e chefe do Serviço de Hematologia e Oncologia do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná.
"Lendo sua coluna de domingo, 13 de abril, intitulada 'Rambos do jornalismo', estimulei-me a enviar-lhe este e-mail sobre outro caso no qual a matéria jornalística foi de tal forma deturpada pela mídia que culminou em prejuízo da vida de seres humanos."
Sua carta conta que, em 27 de outubro de 1996, o programa "Fantástico", da Rede Globo, apresentou reportagem em que denunciava supostas cobranças ilegais para a realização de transplantes entre não-aparentados, por parte do STMO (Serviço de Transplante de Medula Óssea) e da Associação Alirio Pfiffer, de Curitiba.
"A matéria teve -como era de esperar- enorme repercussão, resultando na instauração de auditoria por parte das autoridades do Ministério Público Federal", conta ele.
As supostas cobranças ilegais destinavam-se ao pagamento para a busca de medula óssea em registros internacionais. Tudo foi interrompido, com consequências funestas para diversos candidatos ao transplante.
A Associação Alirio Pfiffer é uma entidade sem fins lucrativos, dedicada a apoiar as atividades do STMO do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
O STMO/HC/UFPR foi o pioneiro, em 1979, na introdução na América Latina das técnicas de transplante de medula óssea. É também o responsável por mais de 60% dos transplantes que se realizam no país.
"Por preencher todos os requisitos exigidos pelo National Marrow Donor Program (NMDP), instituição que acumula, em nível internacional, um banco de medula óssea com mais de 2 milhões de doadores voluntários, em 1995 o STMO foi reconhecido e afiliado pelo NMDP como o primeiro e único centro de transplantes apto a utilizar medula óssea de doadores não-aparentados na América Latina", diz a correspondência.
A auditoria do Ministério Público Federal do Paraná nada constatou de irregular nos procedimentos.
Reconheceu que, em transplantes de não-aparentados, há a necessidade de exames e pesquisas internacionais, contratados de terceiros, que exigem pagamento à vista.
Nem o HC possui dotação orçamentária nem o SUS prevê o pagamento desses procedimentos. A única maneira de viabilizar os transplantes era cobrando das famílias, exclusivamente, os recursos destinados ao pagamento de terceiros.
Conclusão
Qual o final desse falso escândalo? O doutor Pasquini responde:
"Durante a preparação da matéria, fornecemos amplos e irrestritos esclarecimentos à repórter do programa, os quais, infelizmente, não a sensibilizaram.
"Essa omissão é especialmente lamentável pelo fato de que a equivocada matéria do 'Fantástico' provocou um clima de confusão e de desconfiança entre os mais de 60 candidatos a transplantes entre não-aparentados e seus familiares, que foram levados a crer que estavam sendo vítimas de um processo de extorsão, quando tudo o que o STMO e esta associação buscavam era viabilizar a realização de um processo clínico capaz de salvar suas vidas e as de seus parentes queridos."

Email: lnassif@uol.com.br

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