São Paulo, quarta-feira, 23 de abril de 1997
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O mundo inteiro

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

É próprio da CNN, da era CNN, iniciada nos globalizantes anos 80, tornar a notícia espetáculo.
Explosões, tiros, corpos. Sobretudo tensão, com as informações jogadas no ar sem maior filtro.
Primeiro a invasão, pegando de susto a própria rede. Depois os informes peruanos, de que os reféns estavam vivos. Depois as agências, falando em um refém e todos os guerrilheiros mortos.
Por uma longa hora, a tomada da embaixada japonesa no Peru foi um show para o mundo, direto da cena.
O âncora Bernard Shaw, o principal da CNN, que comandou a cobertura a partir de Washington, não estava errado ao comentar:
- O mundo inteiro está assistindo...
No Brasil, Manchete e Record reproduziam ao vivo, sem parar. Em intervalos, entravam SBT, Band e Globo, sempre com a CNN.
E Shaw a dizer que Clinton estava assistindo a CNN no "Air Force One", o avião presidencial; também a secretária de Estado e outros.
E a tensão em ritmo de dramaturgia. Quando a ação baixava, o âncora chamava os "primeiros momentos deste drama". Ou "o 'replay' dos momentos dramáticos".
Jornalismo como drama.
*
Ninguém foi mais teatral do que Fujimori. Esperou minutos para surgir, para a CNN, em plena embaixada. "Ele está na cena, fisicamente", reagiu um excitado Shaw.
Saudou soldados, falou aos reféns, que manteve diante das câmeras; comandou a saída deles, um a um. Antes, cantou o hino peruano. Depois, andou em porta do ônibus e em alto de carro. Depois, falou "à nação".
Sempre diante das câmeras. De Bernard Shaw:
- É um momento importante para ele...
Também de Shaw:
- Ele está no comando.

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