São Paulo, quarta-feira, 23 de abril de 1997
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Violência em Brasília; Trabalho infantil; Morte por indiferença; Emergência; Injustiça; Decepção

Violência em Brasília
"Os cinco jovens de classe média acusados de atear fogo no índio Galdino de Jesus, em Brasília, pensaram que fosse um mendigo. Nem mendigo e nem índio, pois ambos são seres humanos.
Vocês já pensaram se essa moda pega? Como ficará a situação dos mendigos brasileiros?"
Antônio Rochael (Iguape, SP)
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"Ah, bom. Foi um equívoco: eles pensaram que fosse apenas um mendigo."
José Carlos de Camargo Vieira (São José do Rio Preto, SP)
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"Um índio foi queimado vivo em uma brincadeira de 'filhinhos de papai' e o presidente FHC disse ter ficado horrorizado. Com toda razão.
Agora perguntamos: quando o filhinho do ex-ministro dos Transportes atropelou e matou, em excesso de velocidade e no acostamento, um trabalhador, fugindo sem prestar socorro à vítima, tendo tudo isso ocorrido com o 'papai ministro' ao seu lado no carro, por que o sensato e sensível presidente não se horrorizou?"
Marcelo Barreto Peixoto (Poços de Caldas, SP)

Trabalho infantil
"Parabéns à Folha pelo artigo publicado em 13/4, de autoria de Gilberto Dimenstein, sobre trabalho infantil.
O governo federal e alguns governos estaduais têm tomado medidas exemplares, especialmente na erradicação do trabalho infantil perigoso.
Algumas indústrias têm, também, atuado efetivamente para eliminar o trabalho infantil. Só mesmo algumas empresas do tempo dos dinossauros continuam empregando crianças, atentando contra toda ética empresarial e contra as leis do país.
Apesar deles, o Brasil, tenho certeza, vencerá esse problema."
Agop Kayayan, representante do Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) no Brasil (Brasília, DF)

Morte por indiferença
"O senhor presidente da República, como chefe do Poder Executivo, utiliza-se de uma função normativa excepcional (medida provisória), que lhe foi emprestada para atender a casos de interesse nacional relevante e urgente, a fim de eximir o Poder Executivo de cumprir decisões judiciais.
Em seguida, seu ex-ministro da Justiça, sob cuja supervisão foi redigido esse ato de legislação em causa própria do Executivo, é despachado para o Supremo Tribunal Federal, a tempo de votar contra a inconstitucionalidade de tal medida.
As democracias não morrem apenas pela violência. Elas sucumbem também, e muito mais ignominiosamente, pela indiferença dos cidadãos em defender a dignidade do Poder Legislativo e do Poder Judiciário."
Fabio Konder Comparato e Celso Antônio Bandeira de Mello, advogados (São Paulo, SP)

Emergência
"Plano Real: comida barata, eletrodomésticos com grandes facilidades (todo mundo comprando fiado) e agora um carnaval de inadimplência. Milhões de brasileiros desempregados.
Alguém tem de fazer qualquer coisa urgente."
Walter Maia (Salvador, BA)

Injustiça
"A propósito do artigo do sr. Fernando de Barros e Silva, no TV Folha de 20/4, e por ser eu um persistente depositário de confiança na boa-fé do próximo, permito-me fazer algumas indagações e dar uma informação que possibilitará, caso seja do desejo do autor, corrigir uma injustiça:
1) ao aspear a denúncia de prostituição infantil acaso o artigo estava sugerindo que esse tipo de crime não deve ser denunciado?
2) se a ocorrência de um crime é noticiada, a sua repetição ou a sua continuação deve ser silenciada?
3) será ambígua a determinação de denunciar crimes sobre cujo cometimento não haja a menor dúvida?
4) com que autoridade afirma o autor do artigo que as denúncias do 'Jornal Nacional' são apresentadas em doses homeopáticas, como se as tivéssemos em estoque para uso oportunista? Em que fatos se baseia tal afirmação?
5) se pudesse ter fundamento a acusação de que o 'Jornal Nacional' faz denúncias para obter pontos do Ibope, como se interpretariam as denúncias feitas pela Folha, do ponto de vista de sua circulação?
Por fim, em relação à agressão ao nosso companheiro Willian Bonner, informo que é ele o autor dos comentários que eventualmente apresenta no 'Jornal Nacional', e assim foi, portanto, no caso citado no artigo em referência."
Evandro Carlos de Andrade, diretor da Central Globo de Jornalismo (Rio de Janeiro, RJ)

Decepção
"Aguardava há algumas semanas a crítica da Folha sobre o livro 'Cartilha do Silêncio', do escritor sergipano Francisco Dantas. Entretanto, ao ler o Mais! de 6/4, que decepção!
Não será entregando a crítica a ressentidos como Marcelo Coelho que a Folha honrará o seu lugar. Esse alienado articulista faz um pastiche de crítica, afronta os conhecimentos mínimos de literatura tentando inutilmente demolir valores de um autor que não leu.
Fez como vestibulando ruim: leu a orelha e o resumo, para retirar aqui e ali material para sua tarefa. Pior, folheou irresponsável e displicentemente, destilando arrogância e prepotência, veneno e inveja, preconceito contra o Nordeste (que pelo jeito nem conhece) e desinformação teórica.
'Cartilha do Silêncio', apesar da 'implicância' declarada e da ignorância sociolinguística desse pseudocrítico, veio consolidar um dos talentos mais autênticos da nossa literatura.
O leitor sensível percebe em 'Cartilha do Silêncio', como também nos outros livros de Dantas, as infinitas possibilidades da linguagem.
'Cartilha do Silêncio' é uma obra que renova a tradição narrativa acrescentando o vigor de uma prosa fincada nas raízes linguísticas e culturais de uma região ainda pouco conhecida dos brasileiros e reestabelece o horizonte de expectativa dos leitores mais exigentes; é leitura para quem gosta de ouvir o 'rumor da língua', sentir o 'prazer do texto', envolver-se na volúpia da linguagem e viver uma epifania estética. Se Marcelo, para que consiga ir além das 'primeiras páginas' com seu aparato teórico tão precário, quer enredo fácil, frase rasa, vocabulário banal e sintaxe teen, é só ficar em casa lendo as alquimias do outro Coelho."
Lucília Helena do Carmo Garcez (Brasília, DF)

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