São Paulo, sexta-feira, 25 de abril de 1997
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Menos de seis graus separam CD de colunista

BARBARA GANCIA
COLUNISTA DA FOLHA

Recebi da Kuarup Discos "Na Trilha do Cinema", o novo CD da competentíssima intérprete Cida Moreira, e mal tive forças para saborear suas deliciosas versões de "Você Já Foi à Bahia?", "O Ébrio" e "Mulher Rendeira".
Assim que instalei o disco no som da sala, minha memória pregou-me a peça de reviver os "seis graus de separação" entre o CD recém-chegado e esta colunista "gaffeuse".
Quisera que o lamentável episódio tivesse ocorrido com minha destrambelhada amiga Bucicleide. Infelizmente, dessa vez, Buci, digo, Cleide, nada tem a ver com a pequena tragédia que liga a talentosa Cida Moreira a mim.
Tudo aconteceu há quase duas décadas, em um almoço de domingo, no terraço de um apartamento de cobertura da rua Mourato Coelho, no bairro de Pinheiros.
Era um dia de inverno e eu aproveitava para absorver os minguados raios de sol debruçada no parapeito do terraço. Lembro que um amigo acabara de me trazer uma cervejinha e se detivera um momento para apreciar a vista comigo.
Logo surge outro chapinha, Rodolfo Scarpa, que nem mais entre nós está para confirmar o trágico acontecimento, e cutuca meu braço.
Abro um parêntese para ressaltar o fato de que Rodolfo era gago. Mas gago mesmo. De dar com um cabo de rodo na cabeça de tão gago.
Só para ter uma idéia do grau do impedimento verbal de meu querido amigo, certa vez uma empregada anotou um recado seu da seguinte forma: "Seu 'Rorodolfo' ligou".
Pois bem, surge o Rodolfo e começa: "Ó, ó, ó, ó, ó...". Na mão, trazia um LP que queria me mostrar.
Assim que deitei os olhos sobre a capa do disco, dei de cara com uma mulher de porte imensamente avantajado, seminua, deitada sobre um divã. Minha reação foi instantânea. Soltei um sonoro "Aaaaaaaaargh!" e lancei o disco, feito "frisbee", lá de cima do edifício.
Só então meu saudoso amigo conseguiu terminar a frase: "Olha o novo disco da Cida Moreira". Naquele instante me dei conta de que havia outra pessoa ao lado de Rodolfo. Assim que virei, topei com a mulher que acabara de ver na capa do disco atirado aos quintos dos infernos. Era ela mesma, a competentíssima e talentosa Cida Moreira.

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