São Paulo, sexta-feira, 25 de abril de 1997
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Cannes faz justiça tardia a Bergman

AMIR LABAKI
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

O cineasta sueco Ingmar Bergman, 79, deve enviar um representante a Cannes para receber em 11 de maio a Palma das Palmas, o prêmio especial da 50ª edição do mais importante festival de cinema do mundo.
O diretor de "Morangos Silvestres" recorreu a razões profissionais para justificar sua anunciada ausência da cerimônia de entrega do troféu.
A escolha foi feita por 18 vencedores da Palma de Ouro. O único votante latino-americano foi o brasileiro Anselmo Duarte, ganhador da Palma de 1962 com "O Pagador de Promessas". Em entrevista por telefone à Folha, Duarte confirmou que irá a cerimônia.
Também confirmaram presença, por ordem cronológica de triunfo no festival, Michelangelo Antonioni ("Blow Up - Depois daquele Beijo, 1967), Robert Altman ("M.A.S.H.", 1970), Francesco Rosi ("O Caso Mattei", 1972), Francis Ford Coppola ("A Conversação", 1974, e "Apocalypse Now", 1979), Martin Scorsese ("Taxi Driver", 1976), Andrzej Wajda ("O Homem de Ferro", 1981), Shohei Imamura ("A Balada de Narayama", 1983), Wim Wenders ("Paris, Texas", 1984), Emir Kusturica ("Quando Papai Saiu em Viagem de Negócios", 1985, e "Underground", 1995), David Lynch ("Coração Selvagem", 1990), e Jane Campion e Chen Kaige ("O Piano" e "Adeus, Minha Concubina", 1993).
O processo de votação, segundo Duarte, foi desenvolvido por meio de correspondências com o delegado-geral do festival, Gilles Jacob.
Na primeira carta, Jacob fixou como critério a escolha de um realizador vivo e em atividade, dentre os mil cineastas que já disputaram a Palma de Ouro. Uma lista de dez cineastas era apresentada, e havia a possibilidade da indicação de um 11º candidato.
A relação original continha os nomes de Woody Allen, Ingmar Bergman, Bernardo Bertolucci, Jean-Luc Godard, Milos Forman, Peter Greenaway, Nikita Mikhalkov, Manoel de Oliveira, Alain Resnais e Steven Spielberg.
A primeira resposta de Duarte criticava o apontamento de Allen e Godard. "São pessoas que vivem da negatividade. Ganhariam mais notoriedade ao dizer não ao prêmio. Como Marlon Brando e o próprio Allen no Oscar".
Propôs a Jacob a substituição de Allen pelo espanhol Carlos Saura. Foi além: "Citei três brasileiros: Nélson Pereira dos Santos, Cacá Diegues e Arnaldo Jabor".
Nenhum deles emplacou.
Bergman recebeu a maioria tranquila dos votos e ficou com a Palma das Palmas. Cannes lhe faz justiça depois de quase meio século de tensas relações (leia abaixo).
A Palma, contudo, vem depois de três Oscar de filme estrangeiro ("A Fonte da Donzela", "Através de um Espelho" e "Fanny e Alexander") e um prêmio Irving Thalberg, um Urso de Ouro de Berlim ("Morangos Silvestres"), entre outros. A resistência do quase octagenário cineasta em ir receber o prêmio, contas feitas, não parece tão estranha assim.

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