São Paulo, sábado, 26 de abril de 1997
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Universitários de particular e pública têm perfil semelhante

DA REPORTAGEM LOCAL

O universitário brasileiro é solteiro, vem da classe média, não trabalha em tempo integral e veio, em sua maioria, de uma escola privada de segundo grau. Mais surpreendente: o perfil vale tanto para a universidade pública quanto para as instituições particulares.
Cai por terra, assim, o mito de que quem faz segundo grau em colégio público, tido como fraco, faz faculdade particular e quem faz segundo grau em escola privada acaba na universidade pública.
Na realidade, quem faz secundário na escola pública dificilmente chega à faculdade. E quem faz faculdade dificilmente termina o curso, a julgar pelo perfil dos formandos do provão.
No ensino médio brasileiro, quase 80% dos 4,5 milhões de alunos matriculados no ano passado estavam em escola pública. Os outros 20%, nas particulares.
Embora a forma como foram tabulados os dados do provão pelo MEC não permita uma comparação direta, fica clara a desproporção em favor da escola privada.
Nas federais de engenharia -carreira que teve os alunos com perfil mais elitizado-, 60% dos formandos fizeram todo o ensino médio em escola particular e só 26% na escola pública.
A relação se altera pouco nas faculdades privadas de engenharia: 51% contra 32%.
Em administração, os formandos com segundo grau privado foram 49% nas federais, para 35% vindos de secundário inteiramente público. Nas particulares, essa relação foi de 42% para 39% -mais próxima, mas igualmente favorável ao secundarista de escola particular.
As relações são similares no curso de direito e nas universidades estaduais.
Genericamente, esses números apontam para a seguinte situação: dez alunos fazem o secundário, oito em escolas públicas e dois na privada. Os dois da privada fazem curso superior, em universidade federal ou particular, junto com apenas um estudante vindo do secundário público. Os outros sete ou param de estudar ou não terminam a faculdade.
Insatisfação
Outra constatação que surgiu dos questionários preenchidos no provão é de que a maioria dos alunos saiu do curso superior achando que foi pouco exigido.
Nos cursos de humanas, perto de 60% dos alunos acreditam que o curso deveria pedir mais.
Em engenharia, predominou o grupo que se sentiu exigido na medida certa (51%), mas também foi alto o percentual dos que se sentiram pouco exigidos (41,3%).
A carreira de exatas é a que, segundo os alunos, têm cursos mais bem aparelhados. Um terço dos alunos diz ter microcomputadores à disposição na escola e quase um quarto considerou o acervo da biblioteca "plenamente satisfatório". A satisfação é menor em administração e ainda mais reduzida em direito.
Críticas
O aluno de universidades federais e estaduais se mostrou mais crítico em relação ao curso que o das privadas. Para o MEC, isso mostra que "os padrões de excelência não são privilégio das instituições públicas". Mas outra leitura possível é de que os alunos das escolas públicas têm expectativas e espírito crítico maiores.
Em administração, por exemplo, 67% dos alunos de privadas disseram que os professores adotam didática compatível com o curso. O índice caiu para a casa de 59% entre as federais e estaduais.

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